Falar-e-fazer, fazer-e-falar para a promoção da formação continuada e da saúde do professor
por Anselmo Lima
O docente, ao agir, tem a necessidade vital de simultaneamente falar sobre a prática concreta realizada (ainda que seja consigo mesmo, no plano de seu discurso interior) e de realizar concretamente a prática falada. Quando o assunto é a prática de ensino e seu aprimoramento, não pode haver um “falar sobre” sem um efetivo “fazer” e, do mesmo modo, não pode haver um “fazer” sem um efetivo “falar sobre”. Em outras palavras, há uma dialética vital entre fazer e falar ou – o que dá no mesmo – entre prática e teoria ou, como diria Vygotsky, entre conceitos espontâneos e científicos. Essa dialética, quando cultivada adequadamente, se torna promotora tanto da formação continuada quanto da saúde do professor. Trata-se de um movimento transformador contínuo de uma atividade (o falar dos professores) sobre outra atividade (o fazer docente).
A ausência do cultivo da dialética do falar-e-fazer e do fazer-e-falar resulta inevitavelmente, como é o caso em muitas iniciativas tradicionais de “formação docente continuada”, no ciclo vicioso de um falar sem um fazer (no caso dos “figurões”) e de um fazer cujo falar não é reconhecido nem incentivado (no caso dos professores). Desse ciclo vicioso, só pode resultar – como tenho testemunhado – o adoecimento docente no trabalho e a impossibilidade de uma verdadeira e genuína formação continuada do professor. É, sem dúvidas, o momento de romper com esse ciclo vicioso e de, em seu lugar, instaurar e institucionalizar o ciclo virtuoso do falar-fazer-falar… Está mais do que na hora de garantir efetivamente aos professores o direito de juntos, como diz Paulo Freire em sua Pedagogia da Autonomia, “pensarem criticamente a prática de hoje ou de ontem” para “melhorar a próxima prática”. Mas isso de modo que “o próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica” seja “de tal modo concreto que quase se confunda com a prática”.
Nessa perspectiva, “falar” é (re)pensar criticamente a docência e “fazer” é transformar constantemente a prática de ensino concreta em sala de aula por meio desse “falar”. Apoiar os professores nessa empreitada, considerando-os como especialistas autônomos em sua própria atividade, é o verdadeiro papel tanto dos gestores quanto dos especialistas em formação docente, seja inicial ou continuada. Mostrar como isso é possível de uma forma inovadora e que respeite o professor é um dos objetivos deste Blog, cujos posts estarão de agora em diante organizados em três categorias: 1) teoria; 2) prática; e 3) exemplo.
Professor, como tem se dado a relação do falar com o fazer e do fazer com o falar nas iniciativas de formação docente continuada de sua escola? Quais têm sido os resultados? Convido você a compartilhar suas experiências deixando um comentário para este post.
Olá, professor. Parabéns pela iniciativa em primeiro lugar!
Tenho estudado esta temática no contexto dos professores da Educação Profissional e Tecnológica no estado de Mato Grosso e, recentemente, percebido o quanto as representações desse agir docente em interface com as prescrições de seu universo de trabalho constituem um importante elemento a ser considerado. Espero que possamos dialogar e aprofundar nossas reflexões.
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Olá, Eliana! Fico muito feliz em saber que você estuda esta temática! A questão da distância sempre existente entre a prescrição e a realização do trabalho docente será, com efeito, assunto do post da próxima segunda-feira e, a partir daí, desenvolverei uma discussão sobre vários outros aspectos do trabalho do professor, até chegar às questões propriamente de saúde. Gostaria de compartilhar com você um de meus livros. Este um é na área de Educação Profissional:
“Visitas técnicas: interação escola-empresa”
http://www.editoracrv.com.br/?f=produto_detalhes&pid=3031
Obrigado pelo comentário! Continue acompanhando a sequência dos posts. Será um prazer continuar nosso diálogo!
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Não acredito em uma formação de professores que não considere a prática aliada à teoria, professor! As práticas de formação mais efetivas em minha formação docente partiam justamente de experiências práticas vivenciadas e depois iam à teoria e retornavam para a prática. Nesse sentido, acredito que a formação inicial deveria contemplar mais experiências práticas e o PIBID deveria ser mais incentivado.
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Concordo contigo Dener, e penso que a formação de professores focam muito na teoria deixando a desejar na parte pratica, sendo assim quando um professor recém formado vai para uma sala de aula se sente perdido e encontra muitas dificuldades, pois as praticas aprendidas na sua formação foram poucas.
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Acredito que essa postura de honestidade ao “falar”, mas também “fazer” é um elemento-chave para eliminar
o distanciamento sentido pelos professores na formação continuada. O saber teórico e o saber prático, ao atuarem de maneira consonante, completam-se um ao outro e transmitem confiança ao profissional que busca a formação continuada.
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Concordo, Emanuel! Este distanciamento muitas vezes faz com que o professor se sinta um profissional inferior, quando na verdade nem sempre há essa honestidade da parte de quem fala.
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Assim como a Barbara, eu também concordo com sua ideia, o falar é importante, mas as coisas acontecem quando há ação, quando o “fazer” entra em jogo, dessa maneira, faz-se necessário que o professor seja visto, tanto pelos outros e também por eles mesmos, como protagonista de seu “falar” e “fazer”.
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Certamente que a práxis é essencial quando se trata de refletir, repensar e ressignificar a nossa prática docente. Por isso é tão importante que a formação continuada esteja atrelada tanto nas teorias, quanto na realidade prática dos professores, por meio de diálogos entre os próprios docentes e compartilhamento de experiências. Ou seja,que não esteja relacionada apenas ao “falar”.
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Com certeza, percebo os bons resultados que este diálogo entre professores pode ter na escola onde atuo. Muitos professores planejam atividades e aulas em parceria, compartilhando ideias, dúvidas, dificuldades, etc. Na minha visão, acaba tornando o trabalho mais leve, prazeroso e motivador.
Para nós, professores iniciantes, acredito ser ainda mais necessário, mas muitas vezes em algumas escolas observamos uma certa resistência dos professores mais antigos com os que estão começando agora. Me pergunto a razão de isso acontecer.
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Exatamente, quando se existe uma harmonia e um domínio sobre as teorias que são concretas e comprovadas em prática conseguimos alia-las em nosso cotidiano escolar.
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Penso que também devemos ter em consideração nesta discussão entre “falar” e “fazer” os cursos de formação inicial de professores. Talvez os currículos das universidades precisam ser repensados, na perspectiva de contribuir para a auto formação do professor, propondo mecanismos que o torne também um pesquisador dentro da sua atividade docente. Assim o professor seria capaz de impulsionar ainda mais os educandos na busca pelo conhecimento. O “falar” por si só não leva à transformação da realidade do processo de ensino-aprendizagem, por outro lado, o “fazer” também não fala por si mesmo, ou seja, “falar” e “fazer” são indissociáveis.
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É uma reflexão interessante, Mayara. Também concordo com ela: o professor é sim um pesquisador em atividade, pois, mesmo quando está lecionando, também está fazendo um pesquisa (prática) sobre sua atividade. Porém, o resultado dessa pesquisa é refletido internamente em sua própria experiência profissional.
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Concordo que o fazer docente e o falar sobre a prática estão intimamente ligados. O professor, que é especialista em seu trabalho, pode (e deve) compartilhar com outros professores as práticas que deram bons resultados e discutir aquelas que podem ser melhoradas. Formação continuada, ao meu ver, é diálogo sobre o fazer docente.
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Concordo que o diálogo entre os profissionais do ramo deveriam ser constantes. Toda e qualquer profissão só tende a crescer quando suas experências e conhecimentos são compartilhados. Ninguém é capaz de aprimorar-se profissionalmente e pessoalmente sem ter uma vivência coletiva.
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Tudo o que damos atenção tende a crescer/evoluir, se o foco estiver na melhoria das atividades diárias e se houver reflexão sobre as aulas ministradas, certamente com o passar do tempo o professor terá aprendido com suas experiências passadas, por isso, concordo com o Freire quando ele diz em pensar criticamente as práticas de hoje ou ontem irá “melhorar a próxima prática”.
Concordo também que a teoria e a prática necessitam andar de mãos dadas, mas sobretudo é essencial que ambas sejam pensadas criticamente pelo professor, para que assim de fato suas práticas tenham exito do dia a dia.
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Penso que falar do seu fazer é importante para que haja a reflexão de como está o seu fazer, e refletindo sobre o seu fazer (trabalho), ajudara a resolver os possíveis problemas, pois a partir da reflexão ( falar) começa-se a enxergar os problemas. Então se colocarmos em pratica o falar-e-fazer , fazer – e- falar talvez conseguiremos resolver alguns dos problemas encontrados pelos docentes.
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Exatamente, Janaina! É de extrema importância que o falar esteja atrelado ao fazer, pois, se isso não ocorrer, corre-se o risco de uma prática não atrelada a uma teoria ou então de um mero verbalismo, sem que esse esteja atrelado à prática docente.
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Penso que ao pensarmos em falar e fazer, devemos levar em consideração as teorias de Paulo Freire, onde a teoria não deve estar longe da prática, pois ela foi feita para ser transferida em prática, e se isso não está procedendo de maneira correta, devemos ajustar o nosso fazer, deixando livre para o professor acrescentar suas melhorias, onde o mesmo deveria ser o especialista da prática docente, pois vive isso praticamente todos os dias. Este blog é um excelente exemplo do fazer correto, estou ansiosa para ver ele em suas três parte, teoria; 2) prática; e 3) exemplo. Pois é aí que veremos os resultados.
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Exatamente, prof. Anselmo. Parece-me que o professor, pelo fato de não ter títulos mais altos da academia, se passa por um sujeito cujo os méritos em sala de aula, adquiridos também com muita experiência, não tem valor diante dos olhos daqueles que procuram se informar sobre novas formas de se fazer a docência. Em todo caso, acredito que exista um sentimento de desvalorização quando se chega a esse ponto, pois apenas o “figurão” é ouvido, sendo assim, ofuscando a voz do professor em atividade.
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Sim, Angelo. A postura mais aberta e menos segregadora daquele responsável pelo auxílio do professor do ensino básico, por exemplo, pode ser uma boa maneira de impedir essa desconexão que existe entre essas duas figuras no meio educacional.
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O falar e o fazer são duas tarefas distintas mas que visam um único objetivo, ambas devem ser realizadas pois se complementam, e essa atividade deve ser cada dia mais realizada pelos próprios professores que realmente estão na sala de aula todos os dias e sabem o que é o fazer docente, ou seja, o professor deve ter mais voz ativa quanto ao quesito falar.
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Concordo Bruno, o que os professores precisam é autonomia em sua prática e, pessoas que a acolham como os profissionais especialistas que eles são.
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Enquanto professores, precisamos compreender que o nosso “falar” e “fazer” necessitam ser duas vias de mão única. Conhecer os embasamentos teóricos e analisar as nossas reais práticas é o primeiro passo para se aprimorar o nosso âmbito de trabalho e, consequetemente, os processos que o norteiam. A partir do momento que há essa conscientização processual, espera-se que o professor, enquanto sujeito crítico, posicione-se como especialista de sua área.
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A teoria e a prática são ligadas, concordo com o comentário acima que a formação continuada deve ser um diálogo sobre o fazer docente! Onde o professor pode compartilhar suas práticas e assim ajudar/beneficiar outros professores.
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