O professor como educador ou trabalhador?
por Anselmo Lima
Uma abordagem da atividade do professor essencialmente como trabalho humano ou, em outras palavras, uma Ergonomia da Atividade Docente é possível e faz sentido na medida em que inicialmente se definam, diferenciem e relacionem as visões que se têm do professor como educador, de um lado, e como trabalhador, de outro.
De acordo com a visão corrente e amplamente aceita de que o professor é um educador, o docente – em sua atividade – obviamente educaria o aluno. Entretanto, como mostra Vygotsky em sua Psicologia Pedagógica, essa visão é equivocada. Na realidade, é impossível que o professor eduque o aluno. É apenas possível que o próprio aluno se eduque a si mesmo por meio de sua própria experiência no meio social, tanto imediato quanto mais amplo. Essa “nova” visão, mesmo que tenha sua base em Vygotsky, costuma surpreender aqueles que a ouvem ou leem porque são de imediato levados a pensar que, sendo esse o caso, o papel do professor perde completamente sua importância. Entretanto, como afirma o autor, sendo de fato esse o caso, é completamente o contrário que ocorre: o papel do professor, longe de perder sua importância, torna-se muito mais relevante, pois “o mestre é o organizador do meio social educativo, o regulador e controlador da sua interação com o educando”.
Em outras palavras, se, de um lado, o professor se dá conta de sua impotência quando busca agir diretamente sobre o aluno, tentando lhe “transferir” ou “transmitir” conhecimentos; de outro lado, faz a descoberta de seu grande poder de influenciá-lo indiretamente através do meio social, o qual vem a ser, nas palavras de Vygotsky, a “verdadeira alavanca do processo educacional”. O papel do professor como educador consiste então, ainda nas palavras do autor, em “direcionar essa alavanca”. Entretanto, o direcionamento dessa alavanca ou, em outras palavras, o trabalho docente de organização e administração do meio social educativo não ocorre de modo imediato, espontâneo ou milagroso. Há diversos aspectos desse processo a serem considerados, sendo o primeiro deles o fato de existirem as prescrições do trabalho do professor. Esse será o assunto de meu próximo post.
Professor, seria possível “transferir” ou “transmitir” conhecimentos aos alunos? Você concordaria com a ideia de que cabe ao próprio aluno, por meio de seus próprios esforços, desenvolver seus próprios conhecimentos no meio social cuidadosamente organizado e administrado pelo trabalho docente? Registre sua opinião abaixo, no campo de comentários.
Sim. Cabe ao professor motivar o desenvolvimento dos conhecimentos dos alunos a partir da problematização de situações, conceitos e ideias que possam alavancar a curiosidade e o desejo de aprendizagem dos alunos… O adequado é que o aluno desenvolva autonomia na busca pelo conhecimento e eleja o próprio caminho de conhecimento que pretenda percorrer. Daí a importância de um currículo que dialogue com as necessidades e interesses de um grupo específico de alunos, daí a importância da autonomia da escola e dos docentes na seleção desse currículo que faça sentido aos alunos. Utilizando-se a metáfora do motorista, a direção não estará nas mãos do professor, mas sim nas dos estudantes.
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Denize, obrigado por sua contribuição para essa discussão! Tenho uma pergunta para você: qual seria, em sua opinião, a participação dos próprios alunos na seleção do currículo? Em outras palavras, caberia apenas à escola e aos docentes a decisão sobre o que estudar nas aulas ou os alunos poderiam (ou talvez deveriam) participar também dessa decisão?
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Oi Anselmo. Pela leitura que tenho feito de diferentes experiências e pela minha própria experiência, a participação do aluno nessa seleção é muito importante. Ele vem com determinados interesses e curiosidades que se incentivadas pelo professor podem se desdobrar em muitos outros interesses e assim o aluno vai pesquisando, descobrindo, conhecendo, amparado, claro, pelo professor que vai mediando essa construção do conhecimento pelo aluno. Essas discussões estão lindas! muito obrigada por essa oportunidade.
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Acredito que dizer que “cabe ao próprio aluno, por meio de seus próprios esforços, desenvolver seus próprios conhecimentos no meio social cuidadosamente organizado e administrado pelo trabalho docente” é excelente, pois, ao contrário do que geralmente ocorre, assim, considera-se a interação que há no processo de ensino-aprendizagem, pois o trabalho docente, assim como qualquer outro, é composto de inúmeros elementos. Dessa forma, o professor não é o único responsável pelos “sucessos” ou “fracassos” obtidos.
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Sirlei, o fato de muitas vezes o professor ser considerado “o único” responsável pelos “sucessos” e “fracassos” da escola é uma carga pesada demais para suportar. Isso, em conjunto com uma série de outros fatores, contribui para prejudicar a saúde do professor. Uma proposta de formação docente continuada que leve esse aspecto em conta precisará atuar de modo que todos os envolvidos no processo educacional, especialmente os gestores, tomem consciência disso e assumam cada um efetivamente sua parcela de responsabilidade. Obrigado pelo comentário!
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Sirlei, fico feliz em ver que está acompanhando este blog, pois eu também estou. Pontos dessas discussões tem tudo a ver a com a sua pesquisa de mestrado, você sabe. Então, continue acompanhando e deixando seus comentários quando possível. Será excelente!
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Também fiquei muito feliz quando soube da criação deste blog, pois apresenta tópicos realmente interessantes que me ajudarão a pensar e desenvolver minha pesquisa.
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Parabéns pelo site, Anselmo! Já o estou divulgando por aqui!
Grande abraço,
Lília Abreu-Tardelli
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Obrigado, Lília! Que prazer receber sua visita e seu comentário! Agradeço muito pela ajuda na divulgação do Blog! Grande abraço para você também! Vamos nos falando.
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Acredito que a “transferência” de conhecimento do professor para o aluno seja algo presente em todas as aulas, entretanto também deve ser mensurado que tipo de assunto está sendo ensinado. Como por exemplo esperar que o “próprio aluno se eduque a si mesmo por meio de sua própria experiência no meio social” e aprender por si a calcular o volume de um objeto cônico ou entender algum conceito físico que levou anos de meditação e experiências para ser aferido?
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Prezado Edenilson, obrigado por seu comentário! Sua reflexão e a questão que você levanta são de importância fundamental. Acredito que, no caso da aprendizagem que se dá na escola, cabe ao professor (talvez de matemática? física?) organizar e administrar o meio social, por exemplo, da sala de aula ou de um laboratório de modo que nele o aluno tenha uma experiência pessoal com o cálculo ou com quaisquer outros conceitos científicos. O meio social é, pelo menos inicialmente, organizado pelo professor e a experiência que gera aprendizado é a do próprio aluno. Algumas perguntas para você: por que usou aspas para redigir a palavra “transferência” em seu comentário? Seria possível que o professor transferisse conhecimentos aos alunos assim como nós transferimos um arquivo qualquer de um computador para outro por meio de um pen-drive? Em sua opinião, qual seria a diferença?
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Prof. Anselmo, obrigado pelo feedback, o uso das aspas foi por que talvez outra palavra mais adequada que não me veio em mente se encaixasse melhor no contexto.
Acredito que muitos conhecimentos são apenas transferireis e não podem ser aprendidos pelo aluno no ambiente, no direito por exemplo, existem várias regras que só podem ser aprendidas se forem repassadas por alguém, independente do meio (aula, livro, etc).
Ainda nesse sentido, por exemplo, um professor de física poderia mostrar dois objetos, um branco e um preto, ambos no sol e após isso explicar ( ou transferir) o conceito físico da razão do objeto preto esquentar mais que o branco. Ou então ele pode explicar o conceito e depois confirmá-lo com os alunos na prática. No primeiro caso o aluno entenderia o conceito no meio e após teria a complementação teórica indispensável, no segundo ele teria recebido o fato e sua explicação, a validação ficaria sendo talvez, até dispensável.
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Ao ler seu post, professor, lembrei-me quase que instantaneamente das considerações que a professora Eni Orlandi tece acerca do que ela denomina Discurso Pedagógico. No referido texto, ela realiza uma análise automática do discurso sobre o que ocorre diariamente dentro de cada sala de aula e constata que essa visão de que “o professor ensina e o aluno aprende” é uma visão autoritária e ineficaz. Para tanto, ela sugere justamente isso, que o professor atue como provocador dos alunos, em termos vigotskianos, que ele seja o mediador.
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Acredito que na visão autoritária realmente seja mais difícil de o aluno aprender, pois imagino que para que haja aprendizado seja necessário uma interação entre professor/ aluno, onde o professor seja mediador e não impositor do conhecimento.
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Sem dúvidas o papel do professor é essencial dentro da sala, pois é ele quem irá guiar os passos de seus alunos. Seria incoerente exclui-lo de sua função, entretanto, concordo que para o aluno captar o conhecimento vai depender da forma como o docente organiza o meio, para que então o aluno capte o conteúdo. Dessa maneira, o professor mostra o caminho e então o aluno decide se irá trilhá-lo ou não.
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De fato, a forma como o professor organiza sua aula é importante para a forma como o estudante irá se portar. Logo quando são inseridos na escola com seus quatro anos de vida, os alunos são “ensinados” como se portar em uma aula: sentados um atrás do outro, ouvindo e “obedecendo” às ordens do professor. Apesar de notarmos ainda muitas práticas pautadas nesta visão “tradicional” de educação, acredito que a cada dia estamos caminhando mais para este conceito de educação concebido por Vigotsky.
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Concordo, Camila! O professor atua como mediador no processo de construção de conhecimento dos alunos.
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Concordo com a ideia de que o professor eduque indiretamente atuando sobre este meio social educativo, para que o estudante eduque a ele mesmo. Infelizmente, a educação como é concebida hoje pela maioria, nega o espaço de pensar autônomo, tanto do aluno como do professor. Uma aula que deveria instigar a curiosidade do estudante e a vontade pelo estudo, pelo conhecimento, opta pela mecanização, aniquilando a possibilidade de autonomia.
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E é tão triste quando a gente vê isso acontecer. Toda vez que se fala em educação mecanizada imagino inúmeras borboletas com asas coloridas voando em um belo jardim, mas que ao passar do tempo são capturadas e suas asas são tolhidas, impedindo-as de voar. Nosso papel é fazer o contrário, mostrar que eles podem voar cada vez alto.
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Penso que o professor é um mediador, que orienta seus alunos para que esses alunos por meio de seu próprio esforço adquiram o conhecimento. O professor os orienta e por meio desta orientação eles mesmo se educariam.
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Também penso dessa forma, Janaina! No entanto, ainda vejo muitas práticas de ensino baseando-se nas velhas práticas ultrapassadas e comprovadamente ineficazes. Também vejo que há vontade dos professores em formação fazerem a diferença, mas os percalços pelo caminho acabam por levar boa parte dos alunos a reproduzirem as práticas com que foram acostumados.
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Em partes Janaína, as vezes a realidade dos alunos é muito distorcida em seu meio familiar e social fora da escola, nem sempre conseguimos alcançar a todos.
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Quando fiz a leitura do post, me recordei de quantas vezes professores são cobrados nas escolas por não educarem as crianças, quando fazem bagunça e é chamado os pais, os mesmos perguntam ao pedagógico porque o professor não faz nada para eles melhorarem, edução se constrói, não apenas na escola, mas também em casa, cabe ao professor em seu trabalho, repassar conhecimentos para que os mesmos sejam adquirido pelos alunos e se construa uma educação. Mas isso não cabe apenas ao trabalhador, o contexto é muito maior.
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Exatamente Alexia, acredito que o real significado e sentido da escola foi perdido ao longo da história, foi repassado ao professor muitas funções que cabe a família e, com isso sobrecarregando o professor da sua devida função dentro de uma escola.
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Penso que não é possível da parte do professor transmitir conhecimento aos alunos, mas sim, atuar como mediador no processo para ensinar ao aluno o caminho para que esse, por sua vez, busque e construa seu próprio conhecimento. Lembrando que a sala de aula não é um espaço neutro, cabe ao docente buscar formas de impulsionar o pensamento crítico de seus alunos.
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Concordo, Barbara. O processo de ensino e aprendizagem ocorre de maneira muito mais conjunta entre o docente e o discente do que somos levados a crer. Dessa forma, cabe ao professor explorar as capacidades e vivências do aluno a fim de incentivá-lo e auxiliá-lo em seus estudos.
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Creio que alguns de nós podemos ser levados a crer, inconscientemente, que o aluno possui uma grande parcela de passividade em relação ao processo de ensino. É posto na sociedade desde sempre que a escola é o lugar onde um dominador do conhecimento repassa os conceitos para seus alunos, assim cumprindo seu papel como educador. Porém, embora o professor possa dispor de maior experiência e domínio dos conteúdos tratados na escola, o aluno também tem algo a contribuir e seus domínios não podem ser negligenciados. Dessa forma, a relação escolar entre professor e aluno é muito mais mútua do que aparenta, fazendo com que o docente atue muito mais como um incentivador e mediador do que como um transmissor de conceitos.
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Exato. A cada dia a abordagem deve se direcionar para o cotidiano do aluno. Tentar entender sua realidade e estabelecer uma relação dialógica é fundamental.
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O aluno deve ser motivado a buscar o conhecimento dentro e fora da sala de aula, na atualidade onde possuímos as informações na palma da mão não cabe ao professor tentar apenas transmitir o conhecimento mas sim apontar meios para que o aluno busque o conhecimento por si próprio e tenha “sede” pela busca.
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Essa abordagem sociointeracionista de Vigotski é muito interessante. O aluno não fica mais sendo um agente passivo na aprendizagem, deve-se estabelecer uma abordagem dialógica e respeitar os diferentes saberes situados em uma sala de aula. Quanto mais próximo for o professor da realidade de seu aluno, mais fácil fica sua interação com o mesmo.
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O professor é o mediador do conhecimento. Ele motiva e instiga o aluno com ideias, que trazem curiosidade e interesse na busca do conhecimento. O professor deve orientar e o aluno buscar mais sobre o aprendizado.
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Eu vejo o professor como um mediador do conhecimento, mas que cabe ao aluno a significação do mesmo, pois sem os dois trabalhando juntos não há aprendizado.
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