A distância entre o trabalho docente prescrito e o trabalho docente realizado
por Anselmo Lima
As tarefas prescritas ao professor têm caráter vago e impreciso. Esse fato, convoca de imediato uma atividade permanente de interpretação, de redefinição e de elaboração de prescrições por parte do docente, o que desencadeia e o engaja em um processo de autoprescrição. O professor, então, a partir das prescrições que lhe são feitas e de suas autoprescrições, prescreve tarefas aos alunos. Estes, por sua vez, assim como o professor, interpretam e redefinem as prescrições que recebem, o que tem (sérias) consequências para o desenvolvimento da aula e das interações dela resultantes.
Frequentemente se supõe que uma tarefa prescrita pelo professor deveria resultar no instantâneo engajamento individual e/ou coletivo dos alunos. Mas essa suposição é equivocada, uma vez que – após a prescrição – há um tempo coletivo professor-alunos dedicado ao esclarecimento daquilo que há a ser feito, isto é, um momento de regulação do processo de realização, especialmente quando se trata de uma tarefa nova ou que envolva a mobilização de conhecimentos novos. Enfim, a interação professor-aluno se dá a partir da realização de tarefas que o professor prescreve aos alunos e, inevitavelmente, nessas condições, o trabalho docente prescrito se distancia do trabalho docente realizado, assim como a tarefa prescrita aos alunos se distancia do que eles efetivamente realizam.
Esse processo de realização do trabalho do professor, especialmente dentro da sala de aula, é melhor compreendido a partir de uma discussão sobre as quatro dimensões da profissão docente. Esse será o assunto de meus próximos posts.
Professor, as instituições de ensino, muitas vezes sem considerar a existência de uma distância sempre inevitável entre a prescrição e a realização do trabalho educativo, exigem que os docentes realizem certas atividades (se não todas!) rigorosamente de acordo com o prescrito. Isso frequentemente causa mal-estar e gera pressões desnecessárias sobre o corpo docente. Você tem vivido experiências desse tipo em sua escola? Caso afirmativo, percebe que isso afeta de alguma forma sua saúde? Compartilhe sua experiência deixando um comentário.
Olá, Professor! Antes de iniciar meus estudos em nosso grupo e depois no mestrado, nunca havia pensado na importância de compreender o trabalho prescrito e o trabalho realizado e de como isso afeta nossa vida como docentes. Acredito que todos que trabalham com docência já se depararam com isso, seja pela falta de condições adequadas, seja por falta de engajamento dos alunos. Estudando este tema e lendo esse post pude compreender melhor como é importante entendermos essa distância entre o real e o prescrito. Parabéns! Abraço.
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Que ótimo saber disso, Teresa! Você usou uma palavra-chave: o verbo “afetar”. Não há dúvidas de que a “afetividade” do professor é maltratada no trabalho pelas instituições. Esses maus-tratos, conforme vão se acumulando sem resolução, levam o professor ao adoecimento. Vamos levar os estudos adiante! Obrigado pelo comentário. Um abração para você!
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Penso que esse distanciamento existente entre prescrição e realidade venha pela expectativa de que TODA prescrição seja suprida em aula, mas como bem colocado no texto, há varios fatores que impdem esse acontecimento, inclusive por parte do discente que muitas vezes não está engajado suficientemente para que entenda determinado assunto, ou talvez algum problema pessoal esteja impedindo-o de realizar a tarefa proposta. Diante desses acontecimentos a aula nao ocorrerá como prevista, sendo necessário que o professor tente entender as circunstâncias que fizeram com que a aula não tenha dado certo, assim evitará vários transtornos que poderiam levá-lo a um possível adoecimento.
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Olá! Compartilho das opiniões de Anselmo Lima. “Vamos levar os estudos adiante”, pois tem sido muito importante.
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Obrigado, Raquel! Continue acompanhando o Blog. Um abraço!
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Penso ser importante reafirmar que o trabalho do professor é de constante planejamento e readaptação. Por mais que o docente esteja consciente de todas as prescrições que os documentos recomendam, seu trabalho não será igual àquele sugestionado, pois há vários empecilhos para sua efetiva realização. Nosso trabalho não é como uma receita que apenas necessita da reprodução de passos e tudo ficará bem, ela é muito mais do que isso.
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Concordo contigo Dener ! O trabalho docente está longe de ser como uma receita, pois realmente existem muitos empecilhos encontrados pelo professor em sala de aula.
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Penso que esse distanciamento existente entre prescrição e realidade venha pela expectativa de que TODA prescrição seja suprida em aula, mas como bem colocado no texto, há varios fatores que impdem esse acontecimento, inclusive por parte do discente que muitas vezes não está engajado suficientemente para que entenda determinado assunto, ou talvez algum problema pessoal esteja impedindo-o de realizar a tarefa proposta. Diante desses acontecimentos a aula nao ocorrerá como prevista, sendo necessário que o professor tente entender as circunstâncias que fizeram com que a aula não tenha dado certo, assim evitará vários transtornos que poderiam levá-lo a um possível adoecimento.
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Muitas vezes, nem o próprio professor se dá conta dessa complexidade que existe no seu trabalho. Por isso penso que a Clínica da Atividade Docente pode ser um meio para o professor perceber a realidade do seu trabalho além do que lhe é visível, por vezes enfatizando a distância que existe entre o trabalho prescrito e o realizado e a necessidade que o professor terá de constantemente reorganizar-se.
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Concordo, Camila e Mayara! O professor está em constante adaptação e a complexidade do seu trabalho, bem como a distância entre o trabalho prescrito e o realizado precisam ser discutidos.
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Sim, professor. Na educação da esfera municipal percebo que muitas vezes os professores precisam realizar projetos didáticos designados pela Secretaria de Educação, que solicita que estes projetos sejam encaixados dentro dos conteúdos já estabelecidos.
No entanto, pela quantidade de projetos que são enviados às escolas, que devem colocar todos em prática, a reclamação dos professores é que nem sempre é possível inseri-los sem interferir no conteúdo e consequentemente na aprendizagem dos alunos. Assim, a gestão de educação acredita que estes projetos de ensino estariam auxiliando ou melhorando a qualidade do ensino, mas na realidade são mais um fator para o esgotamento dos professores.
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Concordo que apenas o trabalho prescrito, sem considerar as diferentes realidades do professor causa um desânimo nesse. Também coloco que há muitas vezes uma idealização na figura do professor, certamente feita pelas construções sociais do meio em que vivemos, como se esse fosse um ser perfeito e que quando não atinge a perfeição é porque não é um bom profissional. Quando na verdade, somos seres humanos e nem sempre temos todas as respostas na ponta da língua. Compreendo que não há uma receita para o sucesso e que ser professor é lidar com imprevistos e estar em constante adaptação e ressignificação da nossa prática.
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Nossa, muito bem colocado Barbara. Muitas vezes o professor não é compreendido, o seu trabalho pode ser bom e seus alunos podem estar se desenvolvendo, entretanto, se algo foge do “ideal” e algum erro acontece todos se voltam contra ele, bem como contra as suas práticas. Dessa maneira, passam a diminuir o docente como pessoa também, e se esquecem que é um ser humano que erra como qualquer outro.
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Sempre haverão momentos em que o professor terá que readaptar a prática. Às vezes, inclusive, o próprio professor comete o equívoco de achar que o aluno já possui um conhecimento prévio para a introdução de uma nova temática de aprendizagem.
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Certamente existe uma distancia considerável entre o trabalho prescrito e o realizado, pois em uma sala de aula os professores tem que se adaptar a realidade em que a turma se encontra e isso muitas vezes impede o professor de realizar o trabalho prescrito .
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Exatamente, Janaína! Os empecilhos são muitos e diversificados. No entanto, é extremamente importante que o professor continue a readaptar sua prática para que ela se aproxime das orientações prescritas nos documentos orientadores.
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É verdade Janaina, devemos considerar essa distância e saber como contornar e reinventar métodos adaptados para aquele ambiente de trabalho que ao mesmo tempo é um ambiente de ensino/aprendizado.
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Penso que ter o conhecimento sobre o trabalho prescrito é de extrema importância para o docente. Se ele existe, é porque um grupo de profissionais se preocuparam em deixa-lo de forma adequada e que seja uma soma para as aulas. Porém sabemos que na realidade, muitos trabalhos prescritos não podem ser realizados, talvez por terem sido feitos por pessoas que não conheçam de fato a realidade escolar brasileira, todavia não podemos descarta-lo por complexo. Devemos nos adaptar e encontrar bons métodos que se harmonizem com as aulas, não deixando essa preocupação em seguir as prescrições afetar nossa prática e realização das aprendizagens em sala de aula.
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Concordo, os documentos também não podem ser vistos como desnecessários ou irrelevantes para a estruturação do sistema educacional brasileiro, todavia, é necessário que haja certa flexibilidade nas prescrições para que elas estejam mais próximas do contexto da prática real da atividade docente.
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Acredito que há, em toda a prática docente, um idealismo do trabalho prescrito que, ao entrar em contato com os alunos, cai por terra abaixo. É claro que o planejamento deve atender aos requisitos e capacidades que os alunos de uma turma possuem, porém, também acredito ser o dever do professor, como profissional e especialista que é em sua profissão, o papel de manusear a transição do trabalho prescrito para o trabalho realizado.
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Como tem se tornado cada vez mais evidente, o professor precisa ter a autoridade e o reconhecimento de ser especialista em sua atividade. Dessa forma, as prescrições necessitam ter um contato íntimo com o profissional docente, de maneira a serem abertas à adaptações e atualizações que possam providenciar um suporte de qualidade ao professor em sala, que encara uma realidade muito diferente da grande idealização presente nos documentos oficiais.
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O professor deve sim ter um planejamento, mas também deve saber se adaptar. Acontecem muitos empecilhos em sala de aula e justamente por isso o planejado muitas vezes não ocorre, aí está a importância de se adaptar e encontrar bons métodos de ensino.
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Exatamente, e o professor deve ser visto e reconhecido como esse especialista,capaz de desempenhar essa função com excelência em sala de aula.
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O aprendizado realmente só acontece com essa interação, aluno-professor, o que vemos, muitas vezes, são pessoas de fora, ou até mesmo de dentro da escola, que não entendem as adaptações que os professores realizam em sala, do trabalho prescrito nos documentos oficiais, ou, até mesmo projetos municipais que são inseridos nas escolas e, acabam por contribuir para o adoecimento desse profissional, que acaba muitas vezes se frustrando por esse não reconhecimento, ou por essas exigências muitas vezes desnecessárias.
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