Interpessoal e transpessoal: duas outras das quatro dimensões da profissão docente
por Anselmo Lima
Em meu post anterior, abordei duas das quatro dimensões da profissão e da atividade docente: impessoal e pessoal. Neste post, vou discorrer sobre as duas outras dessas quatro dimensões: interpessoal e transpessoal. Antes disso, é importante apenas lembrar e ressaltar que se trata de dimensões indissolúveis ou inseparáveis, não podendo uma existir sem as demais.
DIMENSÃO INTERPESSOAL – Como já sinalizei, a dimensão pessoal corresponde a uma apropriação da dimensão impessoal pelo sujeito trabalhador em atividade. Mas essa apropriação só pode ocorrer na relação com outros sujeitos, trabalhadores ou não. É justamente esse aspecto que vem a constituir a dimensão interpessoal da profissão docente: a atividade de ensino-aprendizagem, como atividade humana que é, não existe e não pode existir sem destinatários. No caso do trabalho do professor, são exemplos de destinatários: os próprios alunos, os outros professores, a direção escolar, os pais ou responsáveis pelos alunos, a sociedade, o governo, etc. É importante ressaltar que, nessa dimensão, o professor também dirige seu trabalho a si mesmo, constituindo-se – nesse caso – como destinatário de seu próprio trabalho. Cada categoria de destinatários tem seus interesses legítimos (muitas vezes, também ilegítimos!) no trabalho educacional que é realizado pelo professor. Sendo esses interesses tão ou mais variados que os próprios destinatários do trabalho, o exercício da profissão docente se complica consideravelmente, pois o professor é desafiado a realizá-lo num território de múltiplos conflitos e, frequentemente, apesar deles.
DIMENSÃO TRANSPESSOAL – Pelo que acabo de expor, é possível perceber que entre o trabalho docente prescrito – aqui entendido como proveniente dos organizadores ou gestores do trabalho educativo – e o trabalho docente realizado – aqui entendido como proveniente dos sujeitos (ou executores) do trabalho educativo, não há um hiato ou um vácuo, pois a distância que se dá entre eles consiste na verdade em um gradual trabalho de reorganização das tarefas (ou prescrições) pelos próprios coletivos profissionais. Em outras palavras, como diria Yves Clot, consiste em uma “recriação da organização do trabalho pelo trabalho de organização do coletivo”. Disso resulta a dimensão “transpessoal” da profissão docente, que corresponde às maneiras comuns de se fazer algo em um dado coletivo de professores, as quais são partilhadas pelos sujeitos em dado meio escolar, correspondendo ao que se chama gênero de atividade docente ou, de forma mais ampla, gênero de atividade didático-pedagógica, que pode ainda ser definido como formas ou tipos relativamente estáveis de ação de ensino-aprendizagem. Nessa dimensão do trabalho docente, pode-se dizer que a profissão é de todos, mas de nenhum em particular. É, portanto, coletiva e transpessoal.
Em meu próximo post, falarei justamente sobre isso: o coletivo de trabalho docente. Até lá, fica a pergunta:
Professor, como têm sido suas relações com os destinatários de seu trabalho? Como você tem se relacionado com seus alunos e eles com você? E no caso de seus colegas de trabalho, os outros professores? E no caso da direção de sua escola? Dos pais ou responsáveis pelos seus alunos? Da sociedade mais ampla? Do próprio governo, etc? Como têm sido essas relações? Têm sido saudáveis? Você tem encontrado apoio em seu coletivo de trabalho para enfrentar e solucionar as dificuldades reais e concretas que enfrenta em suas relações cotidianas na escola? Seu comentário é fundamental! Por gentileza, registre-o abaixo.
Prof. Anselmo, após a leitura de todos os posts até o momento apresentados, pude refletir sobre as diversas imbricações, desafios e motivações que permeiam as relações pelas quais o professor está envolvido para o desenvolvimento das atividades de ensino-aprendizagem.
Assim, as minhas reflexões foram de compreender as influências que esses diversos atores têm no trabalho educacional do professor, nas instituições da Educação Superior em que atuo. De modo que, a partir das experiências como professora da Educação Superior, constato diferentes frentes de interesses (legítimos e ilegítimos) dos destinatários apresentados neste post. Foi possível também constatar que o meu trabalho realizado como professora, encontra-se inserido nas 4 dimensões – impessoal, pessoal, interpessoal e transpessoal. Um exemplo é quanto a minha relação com os alunos, a qual está envolvida nessas dimensões, pois tenho como um dos objetivos entender o meio em que estão inseridos e de que maneira a formação/disciplina em estudo não seja ou se torne um vácuo, um hiato, como descrito no texto.
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Jozeane, fico muito feliz em saber que você está acompanhando o Blog e que ele tem servido para que você reflita a respeito de seu trabalho como professora da Educação Superior! A partir de seu comentário, fiquei me perguntando qual seria algum exemplo de interesse legítimo e de interesse ilegítimo que os destinatários de seu trabalho de professora teriam em sua atividade profissional de ensino-aprendizagem. Fiquei me perguntando também de que modo você lida com esses interesses e se eles teriam algum impacto no sentido de “intoxicar” ou, ao contrário, “tornar saudável” sua vida no trabalho. Por favor, fique muito à vontade para compartilhar exemplos de sua experiência ou não. Um abraço! Obrigado pelo importante comentário!
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Pensando nessas 4 dimensões, e em especial nessas duas últimas, pude perceber que tudo no ensino realmente está interligado, não há separação, é uma comunidade entre professores e alunos que caminham para um objetivo, a aprendizagem. E nesse processo os alunos aprendem com os professores, mas os professores também são ensinados pelos alunos e por seus companheiros de trabalho. Acredito que é essa relação mutua e de “protocooperação” que impulsiona a educação, sendo assim, todos os envolvidos crescem, pois nesse meio nada é estático, são seres humanos aprendendo uns com os outros.
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Com certeza, Camila! O ato de aprender se faz coletivamente o e todos os dias ensinamos e aprendemos com os nossos alunos.
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Exatamente Camila, nós professores assim como os alunos estamos em constante aprendizado.
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É interessante pensar que ao mesmo tempo em que o trabalho não é de ninguém, ele é de todos, pois envolve muitos interesses diferentes de inúmeros grupos sociais. Por vezes, acabamos por servir ideais que não são condizentes com nossa maneira de ver o mundo, mas somos obrigados pela coordenação pedagógica, ou pela cobrança dos pais, o que não raro resulta em sofrimento e frustração.
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Acredito que a cobrança da coordenação seja muito importante para o desenvolvimento do professor, no entanto, quando há muita opressão por parte destes, o trabalho realmente se torna exaustivo levando a problemas de estresse e desinteresse por ministrar aulas. Quanto aos pais, acho interessante a participação no âmbito escolar, pois é importante para que saiba o que o filho tem aprendido, entretanto, na maioria das vezes o que pode ser analisado são alguns pais querendo ensinar a forma como o professor deve conduzir a sua aula, por vezes o docente acaba sendo alvo de fofoca por pais que gostam de se intrometer, quando na verdade não tem noção alguma sobre didática e ensinamento.
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A presença dos pais ou responsáveis na escola, acompanhando o desempenho do filho é de suma importância para o professor, é dessa forma que o ato de estudar se torna um ato conjunto (certamente respeitando que o professor é responsável pela sua prática e o apoiando). Além disso, é essencial que haja diálogo entre os professores de uma determinada escola, seja para compartilhar uma ideia de atividade ou relatar algum ocorrido dentro da sala de aula que conseguiu resolver. Coloco que entre meu grupo de amigos, que assim como eu são professores em formação, sempre buscamos nos enviar materiais e compartilhar dicas e ideias, pois, isso tudo não é uma competição sobre quem é o melhor profissional e sim uma cooperação entre nós. Ser professor permite aprender e mudar constantemente nossas percepções. Quando se trata do ambiente escolar, há inúmeras possibilidades de crescimento pessoal e intelectual, seja junto com os nossos alunos em sala de aula, juntamente dos colegas de trabalho. ou em uma conversa informal com os responsáveis pelos nossos alunos.
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Se houvesse sempre uma relação adequada entre família e escola, e entre colegas professores como relatado em seu comentário, a tensão no trabalho docente já diminuiria bastante e assim o ensino-aprendizagem seria mais eficaz.
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Acredito que quando um professor se vê frente a um problema fica a maioria das vezes inseguro, porem se esse problema já aconteceu alguma outra vez, ou algum dos seus colegas já vivenciou esse problema anteriormente, já existe uma possível solução, e se essa possível solução for compartilhada esse enfrentamento será bem sucedido então o professor não adoecerá.
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Concordo plenamente com o seu ponto de vista, Janaina. Trocar experiências entre docentes é um ponto chave para que a saúde dos docentes não seja prejudicada por problemas profissionais.
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É um quadro complexo o trabalho docente pensando em todos os atores que permeiam essa atividade, como apontado nesse e nos últimos posts.
Muitas das tensões vividas pelos professores podem decorrer dessa realidade. Infelizmente, pela desvalorização dos governos em relação ao trabalho docente, grande parte da sociedade deposita na escola o peso de solucionar seus problemas.
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De fato, Mayara. Acredito que a carga colocada no professor é incoerente com a valorização e o suporte que este recebe da comunidade ao seu redor, tornando difícil cumprir todas as demandas impostas sobre o docente.
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É fundamental que ocorra a troca de experiências entre os professores, participação dos pais ou responsáveis na educação dos seus filhos, projetos do governo em prol da educação e da saúde dos profissionais da área, porém estamos longe disso acontecer na grande maioria das escolas, a dimensão transpessoal é quase inexistente, consequentemente gerando um quadro crescente de professores com dificuldades para trabalhar e consequentemente adoecidos.
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É uma realidade realmente muito distante do ideal. Mesmo com a participação dos pais, ainda fica difícil sem termos uma ajuda extra e, em todo caso, apenas um pai/mãe não resolve o problema todo. O ideal, novamente, seria se a comunidade toda estivesse envolvida com a educação de seus filhos.
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Existe muita desvalorização dos governantes para com o professor em relação ao trabalho docente realizado. Infelizmente, essa é uma realidade bem difícil de ser alterada enquanto estivermos à mercê de políticos que procuram cortar gastos na educação. De qualquer forma, temos ainda o apoio dos pais, eles são o último recurso para ajudar os professores com a educação quando a gestão não demonstra interesse para promover o ensino com qualidade.
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Há muitos obstáculos presentes na profissão docente, para que isso seja contornado, o apoio dos colegas profissionais e a sociedade em geral é de extrema importância. Todavia, como não há a devida valorização do professor no contexto atual, o sentimento de desânimo e apatia pode fazer com que o docente se sinta sozinho e impotente, mesmo quando existem vários colegas profissionais que passam por dificuldades semelhantes e poderiam ajudá-lo se houvesse a devida relação coletiva entre eles.
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Concordo com você Emanuel, o que podemos notar no contexto em que vivemos é, a falta de dialogo e, a empatia um pelo outro. O que muitas vezes não é analisado é, como nós podemos nos ajudar e com isso adoecermos menos, construindo um trabalho coletivo significante.
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Refletindo sobre as quatro dimensões apresentadas, todas são interligadas, o professor e o aluno caminham para um mesmo objetivo, a aprendizagem.
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Lendo esses dois últimos posts, pude refletir e aprender, coisas que passamos ao longo desse processo como professor, ou até mesmo alunos e não nos damos conta e, muitas vezes não sabemos nem o nomear, e agora podemos ver claramente como eles são inseparáveis.
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