O real da atividade por trás da atividade realizada pelo professor
por Anselmo Lima
O ser humano, diz Vygotsky, é pleno de possibilidades não realizadas a cada instante e as possibilidades que ele de fato realiza são uma ínfima parte do universo de possibilidades que seriam realizáveis nas situações em que se encontra. Com base nessa ideia, é possível afirmar que todo professor em sala de aula tem diante de si, a cada momento, na interação com os alunos e com outros destinatários de sua atividade, inúmeros gestos profissionais possíveis de serem realizados. Mas os gestos profissionais docentes que concretamente se realizam são uma parte irrisória do conjunto de gestos profissionais de ensino-aprendizagem que seriam realizáveis.
Assim, a atividade docente – de forma mais ampla – possui um volume que ultrapassa em muito o mero volume da atividade concretamente realizada e observável. Faz igualmente parte da atividade docente todo o volume da atividade não realizada, o qual – em diferentes graus – constitui a própria esfera da inconsciência, isto é, do real da atividade de ensino-aprendizagem. Adaptando as palavras do psicólogo Yves Clot e de seus colegas, pode-se dizer que a atividade docente também diz respeito àquilo que o professor não faz, àquilo que o professor tenta fazer sem conseguir, àquilo que o professor queria ou poderia ter feito (mas não fez!), àquilo que o professor acredita poder fazer em outro momento, etc.
Nesse sentido, apesar de planejar muito bem uma aula, é comum que o docente se queixe de não ter conseguido dar essa aula como planejou e/ou como teria gostado. É comum que ele, muitas vezes frustrado, reclame do fato de que este ou aquele detalhe de sua aula não sai ou nunca pôde sair como planejado e esperado por conta de inúmeros impedimentos (obstáculos e dificuldades, que podem ser ou parecer de fato insuperáveis). A aula que o professor pretendia ter dado, mas não conseguiu, faz parte – então – do universo do real da atividade de ensino-aprendizagem por trás de sua atividade efetivamente realizada.
Professor, quais seriam suas possibilidades não realizadas? O que você poderia ou gostaria de fazer em seu trabalho, mas é impedido? Quais seriam esses impedimentos e como você lida com eles? Fala sobre isso com seus colegas? Eles falam sobre isso com você? O que diz a gestão de sua escola sobre esse assunto? É seu desenvolvimento profissional e sua saúde e bem-estar que estão em jogo.
Professor Anselmo, adorei seu post de hoje! Ele é muito relevante para pensarmos o nosso trabalho em sala de aula. Sempre que penso minha atividade docente percebo que poderia ter feito mais ou diferente em sala para, quem sabe assim, atingir um número maior de alunos. Acredito que os impedimentos giram em torno de mim mesma, das falhas, da pouca experiência e também de alguns fatores de sala (conversa, dispersão). Como já discutimos em outros momentos, a atividade docente em seu início pode ter várias “trepidações” e, com a experiência, essas trepidações tendem a diminuir ou cessar. Abraços!
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Teresa, essa reflexão acerca do real da atividade é útil para fazer aparecer uma parte considerável do trabalho docente que não se vê, mas que existe concretamente. Fico muito feliz que tenha gostado do post e que ele tenha te ajudado a pensar sua prática de outras formas. Um abraço para você! Obrigado pelo comentário!
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O post diz muito sobre o meu trabalho como coordenadora do PIBID, pois além de ter que lidar com a responsabilidade de planejar juntamente com os bolsistas o que eles projetam realizar na sala de aula, preciso encontrar/planejar maneiras de fazer com que eles tomem consciência sobre o planejado e o realizável e reflitam sobre os impedimentos, visando minimizar a frustração em todo esse processo. Obrigada por compartilhar importantes reflexões, professor.
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Kátia, o trabalho de um coordenador do PIBID, nesse sentido, é, de alguma forma, semelhante ao trabalho de um coordenador pedagógico atuante em uma escola. Em certas condições precárias de trabalho, é possível que ele ajude a minimizar as frustrações dos professores apenas até certo ponto. Para além desse ponto, as frustrações só podem mesmo ser eliminadas por meio de investimentos que permitam acabar com a precariedade. Trata-se aqui de impedimentos não só do trabalho do professor, mas também do próprio coordenador, que também se frustra. Mas é preciso trabalhar nesses dois sentidos, apesar de tudo. O desafio é sem dúvidas gigantesco, mas não é impossível de ser superado. Na continuidade das postagens, apresentarei uma proposta prática de encaminhamento e discutirei uma experiência bem-sucedida de implementação dessa proposta em uma instituição pública de ensino. Obrigado por compartilhar suas reflexões a partir do post! Continue acompanhando o Blog. Um abraço!
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Nunca havia parado para pensar que o trabalho docente também envolve as atividades não feitas. Esse post lembrou-me quando trabalhei em uma escola de rede municipal. Era fim de ano e eu tive a ideia de fazer um pequeno teatro com as crianças, este por sua vez seria apresentado para as turmas do colégio. Montei o teatro, fiz as falas, a professora de dança ensaiou coreografa com eles, estava quase tudo pronto. Depois de uma semana de ensaio a coordenadora da escola não aceitou que apresentássemos, isso porque ainda haveria muitos dias de ensaio (até que todos soubessem suas falas e coreografias) e as crianças “não sabiam” se comportar durante os ensaios. Resultado, eu me frustrei, as crianças que estavam com muitas expectativas ficaram tristes e a professora de dança também ficou chateada pois estava quase tudo pronto. Está aí um exemplo de atividade não realizada, frustrante e que poderia ter sido uma experiência legal.
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Sinto muito, Camila. Tenho certeza que realmente deve ter sido muito frustrante lidar com essa situação. Infelizmente, muitas vezes falta ao professor essa autonomia de fazer escolhas e decisões… quando na verdade, essa autonomia deveria ser inteiramente nossa, pois somos quem mais conhecemos os nossos alunos e nossas práticas…
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Infelizmente muitos professores vivem isso que você viveu Camila, planejam atividades porem não podem ser realizadas por “N” motivos.
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Muito interessante pensar em como a atividade em sua plenitude vai além da mera atividade realizada. Tanto é que como destacado no post, até a aula que o professor pretendia ter dado e não conseguiu se torna parte da atividade real. Geralmente, as possibilidades não realizadas são resultado de alguns obstáculos no caminho do docente. Infelizmente, muitas vezes não cabe apenas ao professor lidar com esses obstáculos, como é o caso mencionado pela colega Camila no comentário acima.
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Na maioria das vezes o professor não tem autonomia nenhuma, não pode fazer nada diferente, as atividades precisam seguir o script em todas as turmas, não há possibilidades de mudança ou também não ha materiais para trabalhar (alguns dos obstáculos que podemos citar). O que o professor precisa é de apoio, para que as aulas possam ser modificadas e possa ter um incentivo maior.
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Dificilmente um professor conseguirá realizar seu plano de aula conforme planejado, pois ao ir para a sala de aula ele encontrará varias possibilidades de realizar essa aula, muitas vezes tendo que recriar sua aula surgindo assim outras possibilidades de realização da aula planejada.
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Exatamente, percebo isso acontecer em minha própria prática. Por vezes isso se torna frustrante, mas em outras também percebo que aquelas atividades que foram planejadas mas não realizadas, modificadas em sala de aula por força maior do contexto, acabam se saindo melhor do que aquelas previstas no planejamento.
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É extremamente importante pensarmos em quanto essas atividades não-realizadas podem afetar nossa saúde. Lembro-me de uma aula no estágio que eu e minha dupla havíamos preparados com imenso carinho e ao chegarmos em sala de aula simplesmente tivemos que adaptar tudo, pois as tecnologias que usaríamos não funcionaram adequadamente. Foi duplamente frustrante, pois nos frustramos com o não funcionamento e também com o descomprometimento do professor supervisor que viu o plano de aula e não nos avisou.
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É frustrante quando coisas assim acontecem. Infelizmente estamos fadados a essas peculiaridades e adversidades que podem ocorrer durante o período de docência.
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Concordo com os colegas. É inevitável a frustração de quando elementos fora de nosso controle acabam por influenciar o desfecho de nossa aula planejada, porém, que tais situações sirvam para atualizar nosso repertório de recursos e alternativas didáticas cada vez mais.
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Muito interessante fazer essa reflexão sobre as atividades não-realizadas. De fato é perceptível como podem afetar a saúde do professor. Sabemos, por exemplo, que muitas vezes os professores dedicam o seu tempo, que deveria ser de descanso e lazer estudando, planejando, buscando se desenvolver e na maioria das vezes não se sentem reconhecidos por todo esse esforço. A partir disso me surge a dúvida se essa realidade vivenciada pelos professores também se encaixa no conceito de atividades não-realizadas.
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Acredito que sim, Mayara! Afinal, a atividade não-realizada é tudo aquilo que poderia ser realizado em sala de aula, mas não foi. Assim, se o professor estudou durante o fim de semana e não consegue aplicar o que preparou durante a aula, isso é atividade não-realizada, que gerará desengajamento.
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Esse post fez total sentido para mim, e acredito que fará para a maioria dos professores. É muito comum nos frustrarmos durante o processo de execução de um plano de aula. Sempre pensamos em algo a mais ou algo que poderia ser diferente. Mas, acredito que um dos maiores problemas que os professores enfrentam na atualidade, principalmente no ensino básico, é a falta de disciplina e carência afetiva dos alunos.
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Se me permite complementar o seu comentário, Angelo, acredito que a falta de estrutura e participação efetiva do corpo educacional em um todo também refletem na falha processual das aulas. A limitação estrutural tanto quanto a limitação profissional imposta faz com que o professor pense sempre na mesma linha de raciocínio, o que prejudica a singularidade do professor e dos alunos também.
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É verdade Angelo, as desmotivações e frustrações acabam ocorrendo devido ao planejamento que nao foi concretizado, e também apenas por sonhar em dar certas aulas que sabemos que nao vamos conseguir por falta de recursos.
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O conceito de atividades não-realizadas diz muito sobre os elementos mais pessoais de um professor. Muitas vezes podemos avaliar uma aula de um docente de maneira ríspida e impessoal, analisando o número de objetivos alcançados, eficácia da metodologia, dentre outros aspectos. Porém, o trabalho de elaboração de uma aula é igualmente importante é complexo para um docente, que muitas vezes está fadado a encontrar obstáculos e restrições que fogem de seu alcance. Todavia, isso não necessariamente significa que o indivíduo é um mal profissional, mas possivelmente que sua aula não se concretizou como o esperado.
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Acredito que analisar as atividades não-realizadas de um professor diz mais sobre sua metodologia, didática, perfil profissioal… do que as atividades executadas de fato. Visto que, por vezes, o não cumprimento dos planejamentos de aulas não corresponde à única e exclusiva responsabilidade do docente. Há amplos aspectos que podem intervir diretamente na execução de um projeto.
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Nem sempre a aula sai como nosso planejado, várias vezes temos que recriar, adaptar, para um melhor desenvolvimento em sala.
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Lendo esse post, recordo-me das aulas as quais eu lecionava no ensino fundamental. Muitas vezes podíamos integrar os conteúdos com práticas sociais que estavam acontecendo, ou ate mesmo fazer algo diferente para unir os alunos com a sala de aula, dando mais motivação para o ensino. Porém nós enquanto professores nos desmotivamos em ver que o nosso governo é mesquinho para certos projetos, que as vezes para uma coisa simples nao se existe recurso, por exemplo, para assistir a um filme, não tem caixinha de som, vai la o professor e compra do seu bolso. Para um passeio, não tem o ônibus, muitos professores tem condição de tirar dinheiro do seu bolso para proporcionar aulas com bons recursos, porém outros nao tem nenhuma condição, pois precisam sustentar suas familias. Essa desvalorização e falta de recursos para o ensino é extremamente desmotivador, o que o professor gostaria de promover em suas aulas se tornam outra realidade.
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Concordo Alexia, essas situações, como acontecem com frequência, acabam desmotivando muito os professores que estão engajados em proporcionar uma aula dinâmica aos seus alunos.
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A gente vive esses momentos de atividades não realizadas muitas vezes em nossa carreira. Eu estou convivendo diariamente com isso na escola de educação infantil que trabalho, como os alunos têm faixa etária de um a dois anos, muita coisa que a professora regente da turma planeja, não ocorre como o esperado e, isso tem dias que causa uma frustração muito grande. Mas acredito que essas experiencias se forem refletidas da maneira correta, ajudara no planejamento de outras atividades.
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