Formação e saúde do professor: a teoria em resumo
por Anselmo Lima
A profissão docente possui quatro dimensões indissolúveis: impessoal, pessoal, interpessoal e transpessoal. A dimensão impessoal diz respeito às prescrições oficiais e oficiosas do trabalho docente. Nessa dimensão, o trabalho não pertence a nenhum professor. A dimensão pessoal diz respeito à realização do trabalho em resposta às prescrições. Nessa dimensão, o professor se apropria das prescrições, transformando-as em autoprescrições para melhor adaptá-las às condições reais de execução do trabalho. A dimensão interpessoal diz respeito à execução do trabalho de forma dirigida, respondendo aos interesses conflituosos dos destinatários: alunos, pais ou responsáveis, colegas professores, gestores da escola, o próprio professor que executa o trabalho, etc. Finalmente, a dimensão transpessoal é a dimensão das formas relativamente estáveis e comuns de se realizar o trabalho em um coletivo. Nessa dimensão, que corresponde à expressão máxima da profissão docente, o trabalho é de todos os professores de um coletivo, mas de nenhum em particular.
Entre o trabalho docente prescrito e o trabalho docente realizado existe, portanto, uma atividade interpessoal de organização do trabalho pelos professores, os quais, como educadores, em interação com os alunos, buscam organizar e administrar o meio social da sala de aula para que nele os alunos possam se educar a si mesmos. Quando isso é feito por meio do trabalho coletivo, os professores se apoiam uns aos outros e, por assim dizer, promovem espontaneamente uma formação continuada em serviço, o que acaba por promover também sua saúde. Entretanto, o mais comum é que os professores não formem um coletivo de trabalho, mas uma coleção de indivíduos. Quando esse é o caso, a tendência é que cada docente trabalhe por conta própria, sem a participação e o apoio dos colegas. Isso tem impactos negativos sobre a saúde do professor e sobre o exercício da profissão, que sofre em sua dimensão transpessoal. Torna-se então necessário que os gestores educacionais trabalhem com as coleções de professores para que elas gradativamente se transformem em coletivos de trabalho docente.
Com isso, percebe-se a centralidade da dimensão transpessoal da profissão. É que a atividade do professor em sala de aula, para ser produtiva e saudável, precisa se realizar por meio de gêneros didático-pedagógicos, isto é, através de formas relativamente estáveis de atividade de ensino-aprendizagem. Em outras palavras, é preciso que haja um repertório de gestos profissionais docentes que sejam conhecidos e comuns aos professores de um coletivo, de modo que cada professor – na relação com os demais – possa repeti-los, mas ao mesmo tempo recriá-los, adaptando-os a novos contextos de uso, o que atualiza suas significações funcionais e manifesta o estilo de cada professor.
A recriação de gestos profissionais ocorre porque os gestos anteriores perdem até certo ponto sua eficiência e eficácia em função de novos obstáculos impostos por novas circunstâncias nas quais estão sendo repetidos. No momento do enfrentamento de dificuldades, o professor toma consciência da necessidade de recriação de seus gestos e busca formas de recriá-los. Entretanto, no contexto de precariedade das escolas, no qual o que existe é a coleção de indivíduos docentes, pela falta de apoio mútuo e de troca de experiências, bem como em função de um provável desengajamento disso decorrente, o docente acaba por repetir seus gestos ao idêntico, sem recriá-los. Isso, além de poder gerar frustrações devidas a obstáculos e dificuldades que se apresentam como insuperáveis, acaba por levar o professor ao adoecimento.
É possível perceber que uma real promoção da formação continuada do professor resulta ao mesmo tempo na promoção de sua saúde. Sendo esse o caso, enquanto o papel dos professores é buscar trabalhar coletivamente, o papel dos gestores educacionais é apoiá-los para que eles efetivamente tenham condições de fazer isso. Mas como? Deste ponto em diante, dedicarei os próximos posts à apresentação de uma proposta prática.
Um ótimo resumo de tudo o que já foi visto em todos os post anteriores. Podemos ver como a centralidade da dimensão transpessoal da profissão é muito importante para que a saúde do docente esteja boa e que suas aulas não sejam frustantes.
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Concordo, Janaína. É preciso ainda que o professor tenha consciência de que sua profissão é de dimensão transpessoal, dessa forma ele poderá perceber que não é o único responsável pelo sucesso ou fracasso do ensino.
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É interessante pensar em como a União faz a força, muitas vezes pensamos que sozinhos podemos dar conta de nossas atividades diárias e que não iremos precisar de um outro, mas para que a prática seja bem sucedida é necessário que haja essa comunhão, troca de ideias e experiências . Assim sendo, as atividades tornam-se leve, sem aquela atmosfera pesada, marcada pelo estresse e falta de vonde/desânimo.
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Exatamente, Camila. Neste sentido, como o post coloca, a dimensão transpessoal (ligada às formas relativamente estáveis de atividade de ensino-aprendizagem) é central.
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Gostei muito do resumo da teoria, professor! Muito interessante rever esses tópicos que estamos discutindo ao longo das aulas de Clínica da Atividade Docente. A reflexão que vem após a leitura da teoria nunca é a mesma. A cada leitura desses assuntos relacionados à saúde do professor, se tem inúmeras reflexões diferentes que mostram como essas discussões são relevantes.
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Além disso, essa reflexão é muito importante para nós que seremos futuros professores, afinal é de nosso interesse, a partir delas saberemos algumas coisas para evitar um possível adoecimento. É necessário prevenir para que depois não precise remediar, e essa maneira nos ajuda na prevenção.
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No pouco tempo que discutimos esses conceitos de teoria nas nossas aulas da disciplina de Clínica da Atividade Docente posso perceber que está enriquecendo muito minha prática como professora iniciante, levando à reflexão das minhas relações dentro do meu trabalho e atitudes em relação aos alunos. Penso que seria essencial que todos os professores fossem apresentados a tais conhecimentos.
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Também percebi uma melhoria nas reflexões de minhas próprias aulas como professor iniciante, Mayara. Como você, também acho que os professores deveriam ser apresentados à Clínica, para que pudessem entender que não os culpados pelo fracasso do sistema educacional.
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Achei bastante interessante esse resumo! Ele demonstra como a dimensão transpessoal é central na atividade docente e como os docentes podem promover sua própria formação continuada em serviço, através da transformação da coleção de indivíduos em coletivo de trabalho, processo o qual deve ser apoiado pela equipe pedagógica para que surta efeito.
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Com certeza Dener a dimensão transpessoal é muito importante pois ela é central na atividade do professor
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Como comentamos anteriormente, é imprescindível conciliar, ou, pelo menos, estar ciente da existência das quatro dimensões para ter a perspectiva de quão amplo é o trabalho que nos propomos a fazer e dividir as responsabilidades. Precisamos fazer nossa parte com excelência, mas não podemos nos enfadar em querer cumprir a parte que é do outro, pois fazemos (ou queremos fazer) parte de um coletivo.
Sentir-se parte de um todo ajuda a aliviar as pressões o que impacta diretamente em nossa saúde.
Não devemos, portanto, querer assumir o papel de titã Atlas, pois o peso do mundo é muito pesado para ser carregado individualmente.
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Sim, Rebecca. Enfrentar um obstáculo em conjunto sempre será uma forma de diminuir a carga e o esgotamento de cada indivíduo que busca a solução para um problema. Esse senso de coletividade é essencial para o profissional docente.
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Acredito que pelo fato de, na profissão docente, estarmos em um ambiente de total dependência de um indivíduo com o outro (alunos e professores, professores e gestores, professores e professores, dentre outros), a dimensão transpessoal se mostra como um elemento crucial para que haja uma melhoria geral na qualidade do trabalho (e saúde do trabalhador) em todo o ambiente do ofício.
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Sim, Emanuel. Esse é um processo lento, pois os professores que já estão profissionalmente doentes não conseguem ver outro recurso para aprimorar a sua atividade.
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Penso que dependemos de todos os profissionais que estão envolvidos na prática docente, pois estamos todos remando no mesmo sentido, porém alguns estão com menas força e desmotivados, é por isso que precisamos uni-los e formar um coletivo.
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Belo post! Resume muito bem o que fomos aprendendo durante as aulas. Nota-se que todos os tópicos e assuntos estão interligados. O coletivo não envolve apenas os professores, mas sim, toda a rede de funcionários que desempenham um papel na educação. Creio que a clínica ainda tem um futuro brilhante (fora os resultados já obtidos na UTFPR).
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Tão belas palavras. Nos mostra como todas as ações se complementam e nos dão um parâmetro de quão grande è o sistema educacional. Desejo que a Clínica mantenha-se forte em sua iniciativa. Contamos com esse belo engajamento.
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Muito interessante o post! Ótimo resumo da teoria e para nós professores é muito útil para nossa reflexão sobre as aulas.
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Esse resumo nos faz refletir muito, sobre a prática, mas também como tornar isso possível.
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Muito bom esse resumo. Nos possibilita ter uma ótima visão do quanto a clínica contribui em nossas práticas diárias, mesmo com tão pouco tempo de contato. Realmente é um engajamento que vai além do profissional, firmando raízes na singularidade docente.
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Acredito que para que isso funcione todos devem embarcar no projeto do coletivo, pois muito se reclama da equipe pedagógica não proporcionar uma formação docente continuada que realmente funcione, mas isso cabe aos professores também se engajarem no projeto e buscarem um coletivo de trabalho.
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Esse post foi uma grande maneira de rever o que foi dito nos posts anteriores e resumir de maneira sucinta as dimensões do trabalho docente. Com esse post podemos repensar o papel da clinica e fundamenta-la no embasamento teórico.
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