Constituir um coletivo de professores a partir de determinadas estruturas educacionais
por Anselmo Lima
O segundo passo na implementação de uma Clínica da Atividade Docente nas escolas é a constituição de um coletivo de professores a partir de determinadas estruturas educacionais. Não se deve confundir coletivo de professores com coleções de indivíduos. O que espontânea e normalmente existe nas escolas são as coleções de indivíduos. É a partir delas que se deve constituir o coletivo de professores. Isso se faz, em um primeiro momento, apresentando-se detalhadamente a proposta de trabalho aos docentes e obtendo-se sua adesão para participar. Se a apresentação for séria e bem-feita, eles compreenderão e apoiarão a iniciativa.
O dimensionamento do coletivo de professores a ser constituído dependerá tanto do alcance pretendido para a ação quanto do apoio e comprometimento formal dos gestores responsáveis pela estrutura educacional em que se vai atuar. Apresento a seguir três possibilidades de dimensionamento que considero fundamentais do ponto de vista operacional. Uma se articula à outra de modo progressivo:
- Localmente, com o apoio e comprometimento formal do Diretor, os Coordenadores Pedagógicos de uma escola podem juntos trabalhar na constituição de um coletivo de professores no âmbito de um período, de alguns períodos ou de todos os períodos de trabalho da escola: manhã e/ou tarde e/ou noite. O número de professores participantes aumenta ou diminui conforme a quantidade de períodos.
- Na esfera de uma Região, com o apoio e comprometimento formal da Chefia do Núcleo Regional de Educação (ou da Diretoria de Ensino), uma Equipe de Pedagogos pode constituir um coletivo de professores mais amplo, no âmbito de um conjunto de escolas ou, o que seria melhor, de todas as escolas vinculadas ao Núcleo ou à Diretoria. Nesse caso, a Equipe de Pedagogos precisará contar com os Diretores e Coordenadores Pedagógicos dessas escolas.
- No Estado, com o apoio e comprometimento formal do Secretário Estadual de Educação, uma Equipe de Formadores pode constituir um coletivo de professores ainda mais amplo, no âmbito de todas as escolas vinculadas à Secretaria. Nesse caso, a Equipe de Formadores precisará contar com as Chefias e Equipes de Pedagogos dos Núcleos de Educação (ou das Diretorias de Ensino) e estas precisarão contar com os Diretores e Coordenadores Pedagógicos das escolas. No caso de uma Secretaria Municipal de Educação, o coletivo de professores pode ser constituído no âmbito de todas as escolas do Município.
É importante ressaltar que, como sugerido, o dimensionamento deste último coletivo de professores (3) pressupõe, em seu interior, o dimensionamento do anterior (2) e que este, por sua vez, pressupõe, também em seu interior, o dimensionamento do primeiro (1). Trata-se, de fato, de constituir um coletivo de professores a partir de determinadas estruturas educacionais. Nunca é demais repetir: o que espontânea e normalmente existe nas escolas são as coleções de indivíduos e é a partir delas que se deve constituir o coletivo de professores. Este é o segundo passo de implementação de uma Clínica da Atividade Docente nas escolas. O primeiro passo pode ser consultado no post anterior. Apresentarei os próximos passos nos posts seguintes.
Gestor, você acha exequível esta proposta de constituição e dimensionamento de um coletivo de trabalho docente a partir de determinadas estruturas educacionais? Professor, você apoiaria o gestor e seus colegas docentes nessa iniciativa? Quais dificuldades poderiam ser previstas? Fique à vontade para compartilhar sua resposta abaixo, por meio de um comentário.
Boa tarde, professor Anselmo! Esta proposta é realmente muito boa, porém me pergunto como podemos realizá-la com sucesso em tempos de individualismo, em que só nos preocupamos com os nossos problemas sem olhar para o outro (que pode inclusive estar passando pelo mesmo problema!), e assim solucioná-lo coletivamente, como é proposto nessa segunda etapa para a Implementação de uma Clínica da Atividade Docente.
CurtirCurtir
Cibele, o individualismo é um dos problemas de saúde dos professores que uma Clínica da Atividade Docente se propõe a tratar e a resolver nas escolas. A proposta consiste na transformação gradativa de “coleções de indivíduos”, nas quais cada professor sofre os obstáculos e dificuldades da docência na solidão e no isolamento, em um verdadeiro “coletivo de trabalho”, no qual esses obstáculos e dificuldades são enfrentados e superados de forma coletiva. Portanto, neste segundo passo, o trabalho se inicia justamente com as “coleções de indivíduos”, que – ao tomarem conhecimento da proposta e a ela aderirem – já avançam em direção a se tornarem um “coletivo de trabalho”. Para complementar esta reflexão prática, recomendo a leitura do seguinte post: “O que caberia aos docentes quando o assunto é sua formação continuada e sua saúde?”
https://formacaoesaudedoprofessor.com/2016/03/18/o-que-cabe-aos-professores-na-promocao-de-sua-formacao-continuada-e-na-promocao-de-sua-saude-nas-escolas/
Você vai perceber que você mesma já apresentou a resposta para sua pergunta: é preciso começar a olhar para o outro e a cuidar de seus problemas junto com ele. Em breve, apresentarei e discutirei um método clínico para se fazer isso mais sistematicamente. Continue acompanhando o Blog! Obrigado pelo excelente comentário! Um abraço e até breve!
CurtirCurtir
Caro Anselmo! A proposta é interessante e vai ao encontro de formação de um coletivo em rede, o que é bastante significativo. Agora, me permita acrescentar a possibilidade de escolhas de interlocutores (representantes) nas diferentes estruturas para levar e trazer as deliberações retiradas nos coletivos das unidades de ensino.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Prezado Estênio, concordo plenamente com você! De fato, é preciso que o coletivo de professores tenha autonomia inclusive para indicar interlocutores ou representantes no trânsito pelas diferentes estruturas. Isso legitima os docentes ainda mais como os verdadeiros especialistas e protagonistas naquilo que fazem. Obrigado por sua gentil contribuição para o desenvolvimento da proposta! Por favor, fique muito à vontade para continuar participando. Abraço agradecido!
CurtirCurtir
Como discutimos em sala de aula, a clínica não pode ser forçada “goela abaixo” pois ela envolve um processo sistematizado que só dará resultados se houver o envolvimento total dos participantes. Lembrando que esses “resultados” não se resumem em bom ou razoável ou apenas para criticar o professor, muito pelo contrário, a clínica não faz juízo de valor. Além disso, a resistência também pode existir, até mesmo da parte dos professores por várias razões. Aí que entra a grande questão, só não apoia a clínica quem não entende que ela é uma proposta dos e para os professores, coordenadores e gestores, diferentemente do que estamos habituados a presenciar, a clínica não é algo pensado por pessoas que não fazem ideia da realidade em sala de aula.
CurtirCurtir
Concordo quando você coloca que pode haver uma resistência por parte dos professores. A clínica é nova e muitos professores nunca ouviram falar. No momento em que uma proposta nova surge o receio vem junto, pois na mente desses sujeitos é só mais um tipo de projeto como qualquer outro, que nunca da certo. Mas como comentado em sala, a Clínica da Atividade Docente vem para mostrar que ainda há esperança em sala e que o adoecimento pode ser evitado.
CurtirCurtir
Concordo, Barbara, O vínculo e a atenção da clínica em relação a prática real da atividade docente é essencial para percebermos como é um projeto diferenciado e muito positivo para o contexto educacional atual.
CurtirCurtir
É muito interessante pensar que a Clínica possui um grande potencial para alcançar diversas esferas da educação, desde uma sala de aula até chegar no estado, com o apoio da Secretário Estadual de Educação, ou também pelo processo inverso, do estado até a sala de aula. O fato é que a clínica vem para somar com os professores e sua presença faz-se necessária dentro do âmbito escolar. Para tanto é necessário que tenha docentes que saibam muito bem como funciona a clínica, para que não haja equívocos durante sua implementação, pois se algo não sair como o esperado, é provável que a culpa recaia sobre o projeto, quando na verdade o objetivo é DAR CERTO.
CurtirCurtir
Exatamente, Camila. É um processo sistematizado e que está totalmente atrelado ao coletivo de trabalho, sem esse não é possível fazer a clínica acontecer.
CurtirCurtir
Exatamente Camila, os professores tem que estarem bem familiarizados com a clinica para que ela dê certo, pois se ela for “forçada” dará errado.
CurtirCurtir
Hoje mesmo li uma reportagem interessantíssima e que dialoga com o que temos discutido em sala. Nela, discutia-se os prejuízos na educação dos professores temporários, a falta de ligação entre aluno e professor, o endividamento de professores que não conseguem trabalho, as dúvidas ao fim do ano, quando os contratos são encerrados…
Em números, a reportagem aponta que, em média, 40% dos professores das redes estaduais atuam nesse tipo de contrato, chegando a até 86% em alguns estados. Aí me pergunto: em um caso desses, onde 86% dos professores são temporários como conseguir formar um coletivo de trabalho?
CurtirCurtir
Dener, compartilho do mesmo questionamento. E o problema é que essa contratação temporária de professores tem se tornado cada vez mais regular. Outra questão é como inserir os professores temporários em um coletivo de trabalho já constituído. Enfim, talvez nossas dúvidas possam ser respondidas nas próximas aulas ou nos próximos posts.
CurtirCurtir
Com a trajetória percorrida até agora posso concluir que o coletivo de trabalho dos professores é um elemento essencial quando buscamos a qualidade do trabalho docente, consequentemente, a sua saúde. Infelizmente, o que percebemos é que as escolas (até mesmo as universidades) tendem a adotar uma postura de enfatizar o trabalho individualizado, tanto entre professores como entre alunos. Como discutiu-se anteriormente, a “aprendizagem” é social pois reside na relação com o outro. Assim, o individualismo interfere no desenvolvimento de todos os envolvidos no processo educacional. Fica claro para mim porque constituir um coletivo é um dos primeiros passos para a implementação da Clínica de Atividade Docente.
CurtirCurtir
Compartilho de seu ponto de vista, Mayara! O sistema vai nos colocando em caixinhas: fizemos parte da mesma universidade, mas somos de departamentos diferentes ou, se somos do mesmo departamento, então somos de áreas diferentes e por aí vai… Fazer clínica é ir contra esse sistema que nos faz ser individualistas.
CurtirCurtir
Compartilho de seu ponto de vista, Mayara! O sistema vai nos colocando em caixinhas: fizemos parte da mesma universidade, mas somos de departamentos diferentes ou, se somos do mesmo departamento, então somos de áreas diferentes e por aí vai… Fazer clínica é ir contra esse sistema que nos faz ser individualistas.
CurtirCurtir
A clínica da atividade docente oferece uma melhora no ambiente e nas condições de trabalho de todos aqueles vinculados ao contexto educacional. Embora o coletivo de professores possibilite melhoras e cuidados aos docentes, há também um impacto positivo para os gestores, alunos, pais, dentre outros, visto que a relação social existente no ensino causa efeitos em todos aqueles que participam do processo. Sendo assim, um professor saudável tem mais chances de espalhar essa positividade para aqueles ao seu redor.
CurtirCurtir
A Clínica possibilita uma melhoria à prática docente e, consequentemente, isso refletirá no ambiente do profissional, seja nos gestores, colegas de profissão e alunos. O sistema em que estamos inseridos tendem a nos fazer a serem individualistas. Com isso, conseguimos perceber a tamanha responsabilidade deste projeto e a força que precisa ter para romper com estruturas fortemente enraizadas.
CurtirCurtir
Acredito que, se conseguirmos concientizar os professores da importância da clínica, por meio de resultados já alcançados com a prática desta, conseguiremos expandir a ideologia propagada por este projeto e, consequentemente, trabalhar efetivamente no ambiente escolar.
CurtirCurtir
Sim, Jéssica! É um trabalho difícil, como já citado anteriormente devido os constantes descontentamentos dos professores diante dos métodos empregados outras vezes, mas é um projeto pelo qual vale a pena lutar.
CurtirCurtir
Infelizmente a maioria das escolas estão compostas por coleções de indivíduos e penso que a clinica deveria ser implementada com urgência pois a cada dia a nossa profissão esta ficando mais doente.
CurtirCurtir
A partir do momento que as pessoas se derem conta de que, o coletivo funciona muito melhor e é muito mais proveitoso, esse adoecimento começará a diminuir e, concordo quando você fala da urgência em que se deve colocar em prática a clínica.
CurtirCurtir
Ótimo post! Acredito que o coletivo de trabalho do qual a clínica fala é essencial para a construção de um ambiente amigável e de companheirismo. A atenção volta-se principalmente para os gestores que, com a alta responsabilidade que possuem, coordenam as atividades dentro da escola.
CurtirCurtir
É verdade Angelo, so de pensar em um ambiente onde nao se existe amizade, comprometimento coletivo e união, ja desmotiva o docente a ida ao trabalho. Com um ambiente saudável, tudo se transforma.
CurtirCurtir
A maior dificuldade acontece em pessoas que fazem parte da coleção se darem contar de que estão nessa posição, pois todos acreditam que já estão em um coletivo. Acredito que a partir do momento, que as pessoas que estão envolvidas nessa coleção, sejam esclarecidas do quão importante é a formação de um coletivo e haja um engajamento para que a clinica funcione, os outros passos podem acontecer de maneira um pouco mais fácil.
CurtirCurtir
Penso que é um grande passo iniciar pela construção de um coletivo desfragmentando a coleção, pois e a partir deste momento que a integração e a união começam a dar os primeiros resultados, pois um consegue ajudar, dar dicas, orientar os outros, formando um ambiente de união.
CurtirCurtir