Enfrentar o trabalho concreto de sala de aula com o coletivo de professores
por Anselmo Lima
Depois de constituir um coletivo de professores a partir de determinadas estruturas educacionais, o terceiro passo na implementação de uma Clínica da Atividade Docente nas escolas é enfrentar o trabalho concreto de sala de aula com esse coletivo. Dentre os vários métodos clínicos disponíveis para se fazer isso, destacarei e detalharei neste e nos próximos posts o método da Autoconfrontação Simples e Cruzada. Trata-se de procedimentos inovadores, que – por meio da filmagem audiovisual – se apoiam no emprego das imagens dos professores em situação de trabalho com os alunos, em sala de aula ou em outros ambientes escolares, com o objetivo de promover em parceria a formação continuada e a saúde nas escolas. É importante ressaltar que a inovação aqui não é a filmagem de aulas em si! A inovação aqui é o próprio trabalho clínico que se desenvolve por meio dessa filmagem antes, durante e depois de sua realização. Os procedimentos são os seguintes:
1) formar duplas de professores voluntários no interior do coletivo de trabalho docente para a filmagem de aulas;
2) estabelecer uma parceria de trabalho com os alunos dos professores voluntários e – no caso dos discentes menores de idade – também com seus pais ou responsáveis;
3) observar e registrar por escrito uma ou duas aulas de cada professor de cada dupla voluntária;
4) auxiliar os professores de cada dupla voluntária na análise e na problematização das aulas observadas e registradas por escrito;
5) filmar uma ou duas aulas de cada professor de cada dupla voluntária tendo em mente a análise e problematização inicial das aulas observadas;
6) auxiliar os professores na análise e na problematização de trechos das aulas filmadas por eles escolhidos e indicados, empregando para isso sessões de Autoconfrontação Simples e Cruzada, as quais devem também ser gravadas audiovisualmente;
7) produzir videodocumentários sobre o processo de análise e problematização de trechos das aulas filmadas, empregando para isso as gravações das sessões de Autoconfrontação Simples e Cruzada;
6) compartilhar os videodocumentários com todo o coletivo de professores em reuniões pedagógicas conduzidas pelos próprios professores, com o auxílio – por exemplo – dos Coordenadores Pedagógicos;
7) auxiliar o coletivo de professores na análise e na problematização dos videodocumentários de modo que formulem providências didático-pedagógicas a serem tomadas por eles mesmos e pelos gestores educacionais;
8) registrar em atas uma síntese da análise e da problematização dos vídeodocumentários, bem como das providências didático-pedagógicas a serem tomadas;
9) levar os resultados ao conhecimento dos gestores educacionais apoiadores da iniciativa por meio dos videodocumentários e das atas das reuniões pedagógicas;
10) tomar as providências didático-pedagógicas necessárias com o apoio do coletivo de professores e dos gestores educacionais envolvidos;
Detalharei e explicarei em meus próximos posts cada um desses procedimentos de enfrentamento coletivo do trabalho concreto de sala de aula. Adianto que todos eles devem ocorrer em estrita conformidade com o referencial teórico que venho apresentando neste Blog: é, por exemplo, indispensável que os professores sejam respeitados e atendidos como os verdadeiros especialistas naquilo que fazem. Por ora, ficam as seguintes perguntas: professor, você estaria disposto a participar desse trabalho com seus colegas e alunos? Como imagina que reagiria ao ser observado e filmado em sala de aula? Como imagina que seus alunos reagiriam? Como imagina que seus colegas reagiriam? Consegue vislumbrar os ganhos dessa participação? Quais seriam os ganhos para você, seus colegas e seus alunos? Gestor educacional, você teria a coragem política de apoiar os professores nessa iniciativa? O desafio está lançado! Quando o assunto é a melhoria da qualidade da educação, o melhor partido a se tomar é sem dúvidas o dos professores.
Quero mais informações.
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Prezada Micheli, boa tarde! Fico muito feliz com seu interesse pela proposta! Para obter mais informações, por gentileza continue acompanhando o Blog. Costumo publicar novos posts toda segunda, quarta e sexta-feira. Depois deste post e antes dele, vários outros já foram publicados e estão disponíveis para leitura. Haveria especificamente alguma pergunta que você gostaria de fazer ou dúvida que gostaria de tirar? Um abraço!
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Gostei muito da sistematização dos procedimentos, certamente essa proposta de trabalho clínico é inovadora. Além disso, interessante observar como essa traz os procedimentos de antes, durante e depois das filmagens. De início pode ser que haja um estranhamento da parte do professor observado por conta da filmagem, mas é essa que faz com que o docente ao ser observado, se observe também. A clínica é para quem vive as diferentes realidades no ambiente escolar, por isso temos aqui uma proposta na qual a opinião do professor é a mais importante, já que a devolutiva das filmagens com os registros por escrito buscam não atribuir “certo” e “errado”. Dessa maneira, ninguém aponta o dedo para o professor de modo a criticá-lo de forma não construtiva, desmotivá-lo ou responsabilizá-lo por tudo o que ocorre, muito pelo contrário, o próprio professor se observa e se avalia, pensa e repensa sua prática.
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É isso mesmo, gostei da frase “ninguém aponta o dedo para o professor de modo a criticá-lo de forma não construtiva, desmotivá-lo ou responsabilizá-lo por tudo o que ocorre”. O que eu mais percebo é que o professor faz 99% do seu trabalho de forma correta (como não somos deuses cometemos falhas), mas sempre tem aquele 1% de erro, e é justamente por essa porcentagem ínfima que somos responsabilizados por todos os outros erros, que na maioria das vezes não é nossa responsabilidade.
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Gosto bastante de pensar sobre a reflexão em sala de aula, inclusive já mencionei bastante essa palavra (REFLEXÃO) nos comentários aqui no blog. E não é atoa, vejo a clínica como uma ferramenta para essa autoanálise/ autocrítica, na maioria das vezes o professor não consegue identificar onde está o problema, como visualizar seus erros e acertos, no entanto, a filmagem é o instrumento mais adequado para o decente reparar e refletir sobre suas ações dentro do seu campo de trabalho.
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De fato, Camila. Para nós, professores, a reflexão é essencial pois está totalmente atrelada à recriação da própria prática.
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Professor, essa metodologia de trabalho com as filmagens é extremamente interessante! Em alguns momentos de meu estágio de docência, a professora Didiê comentou comigo essa metodologia e já havia achado interessante para promover minhas reflexões. No entanto, ao saber dos demais passos fiquei extremamente fascinado por essa metodologia.
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Que legal, Dener. Acredito que se tivéssemos conhecimento da Clínica da Atividade Docente antes de começarmos os estágios na graduação, poderia ser um ótimo momento para colocar alguns dos processos apontados pelo professor Anselmo em prática. Seria muito enriquecedor para a nossa formação pois nos traria ainda mais experiências.
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Ao ler todos os procedimentos é nítido o apoio que o professor tem dos seus colegas na Clínica da Atividade Docente. Não se trata de sozinho lidar com os desafios da sala de aula, mas sim buscar em coletivo refletir sobre a prática. Dessa forma o professor não é o único responsável pelo processo de ensino e não se sente sobrecarregado. Acredito que se a Clínica é apresentada de forma correta aos professores, de modo que não os intimide, ele iriam perceber (como nós, alunos da disciplina do professor Anselmo, percebemos) as suas inúmeras vantagens para o trabalho docente e para o desenvolvimento dos alunos.
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Sim, Mayara! A Clínica é uma ideia que assusta em um primeiro momento. Contudo, depois de implementada, ela resolve muitos dos problemas escolares. Seu comentário ainda me lembrou do dito popular (que penso ser uma ideia central na proposta) “nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos”.
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Também acredito que a Clínica, se apresentada corretamente, só tem a contribuir com o contexto atual dos professores, Mayara. Ela se apresenta como um processo diferente das tradicionais palestras e afins, sendo um fôlego novo para os docentes que buscam maneiras de desenvolver e atualizar suas práticas de ensino.
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Tendo a formação de um coletivo de trabalho de professores em mente, creio que a Clínica da atividade docente já parte de um ponto diferenciado para direcionar suas propostas. Quando o professor percebe que não precisa encarar todas as adversidades de seu ambiente de trabalho sozinho e que há espaço para ele mesmo contribuir com dificuldades de outros colegas, creio que haja uma mudança no paradigma atual das escolas, em que cada docente está só é impotente perante as problemáticas que surgem no ambiente de ensino.
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Essa (re)construção da consciência profissional, onde o sujeito passa a compreender que não está só e que pode contar com o apoio e auxílio de seus próprios colegas, resulta em reações positivas do sujeito diante sua limitação. A sensação de impotência dará lugar à uma possibilidade de fazer acontecer. Assim como o professor que busca auxiliar o outro mediante sua dificuldade, tudo é troca de experiências e aprendizagem.
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Como já venho comentando nos posts anteriores. A Clínica permite um conhecimento do próximo e, principalmente, um autoconhecimento. Ou seja, compreender-se no singular para que possa atuar em coletivo.
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É uma outra visão que se adquire através dos videodocumentários, a reflexão é feita através de sua própria análise, identificando seus próprios erros, sem o julgamento incisivo e rude de outro indivíduo.
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Como é importante esse projeto da Clínica, é ótimo buscar no coletivo soluções para a prática em sala de aula e assim se aprimorar, esse projeto só tem a contribuir para os professores.
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Ana Carla, com certeza esse projeto só tem a contribuir com a nossa profissão.
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Exatamente, é muito bacana ver como é seu seguimento e como ele pode trazer grandes resultados.
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Algo que me chamou a atenção neste post é o que está escrito no ultimo paragrafo que diz que os professores devem ser tratados como especialistas no que fazem, justamente porque eles são especialistas, e uma coisa que me deixa abismada é o fato de muitas pessoas acharem que os professores não são especialistas no que fazem e estão sempre buscando outras pessoas para “ensinarem” os professores como se eles não tivessem conhecimento do que estão fazendo.
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Cada vez mais percebo que com a filmagem das aulas a própria conduta dos observados muda. Não só do professor, mas também dos alunos que estão neste posto. Esse é um recurso muito inovador para tratar da atividade docente. Quanto aos métodos para solucionar os eventuais problemas que surgem durante as aulas, só tenho a concordar com o post: quando constrói-se um coletivo de professores cientes da clínica, os resultados certamente devem aparecer com muita rapidez.
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Concordo plenamente com suas palavras, acredito que a partir de um coletivo formado, as coisas começam a fluir mais rápido, e que o simples fato de ter uma câmera o filmando, já o faz refletir sobre a sua conduta antes que ela aconteça.
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Acredito que muita coisa irá mudar, a partir do momento em que as pessoas realmente conheçam como a clinica funciona, e esses primeiros passos são esclarecedores, e reflexivos sobre o seu funcionamento.
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Essa iniciativa da autoconfrotação simples e cruzada é excelente. Pois todo o processo tem uma sequencia metodológica para resolver a problemática em questão, visando uma melhoria no quadro docente. Muito interessante vermos todos os passos que a clinica segue para chegar ao resultado.
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