Filmagem de aulas: investigar ou ajudar o professor?
por Anselmo Lima
Como resultado da observação e registro escrito de suas aulas, bem como da devolutiva que lhes é dada de maneira a legitimá-los e respeitá-los como os verdadeiros especialistas naquilo que fazem, os professores têm a oportunidade 1) de se observar a si mesmos ao serem observados pelos Coordenadores Pedagógicos no trabalho de sala de aula; 2) de problematizar para si mesmos suas próprias práticas didático-pedagógicas; e 3) de dialogar e refletir sobre esse processo, inclusive acessando e apreciando o ponto de vista qualificado dos Coordenadores Pedagógicos, o qual – nunca é demais repetir – não deve ser imposto aos professores.
Passada essa fase, o sétimo passo na implementação de uma Clínica da Atividade Docente nas escolas é a filmagem efetiva de uma ou duas aulas dos professores de cada dupla voluntária no interior do coletivo de trabalho docente. Com muita frequência, quando se fala em filmar o trabalho docente em sala de aula, há sempre aqueles que – sem compreender com maior precisão a perspectiva teórico-metodológica da Clínica da Atividade – questionam a iniciativa, manifestando-se da seguinte forma: “desse jeito não será possível identificar os pontos fracos e os erros do professor porque ele vai mudar sua prática ao ser filmado”!
Não há dúvidas de que esse tipo de questionamento só poderia vir daqueles que se inscrevem – deliberadamente ou não, conscientemente ou não – no paradigma educacional do especialista externo na atividade docente. Lamentavelmente, para eles o professor seria alguém desonesto, que deveria ser investigado em sala de aula e punido ou responsabilizado pelos supostos erros que cometeria. Minha resposta, nesses casos, é sempre a mesma: “uma Clínica da Atividade Docente considera que o professor é, em primeiro lugar, um especialista idôneo naquilo que faz e não desconfia, em momento algum, de sua honestidade. Assim, seu objetivo não é identificar supostos ‘pontos fracos’ e/ou ‘erros’ que o professor poderia querer talvez esconder ou camuflar. Seu objetivo é justamente que o professor tenha a oportunidade e a liberdade de transformar sua prática, repetindo e recriando-a por meio de seu engajamento nesta iniciativa, especialmente no momento da filmagem das aulas, mas não só. O objetivo é ajudar o professor nesse processo, e não investigá-lo”!
Professor, você já teve a experiência de ter sua aula filmada? Como foi essa experiência? Qual foi o objetivo? Você estaria disposto a ter sua aula filmada para participar da implementação de uma Clínica da Atividade Docente em sua escola?
Prof. Acredito que entender os professores como especialistas em sua atividade é essencial para que os mesmos vislumbrem a filmagem como auxílio em sua atividade.
Prof. Anselmo: Parabéns pela contribuição para a educação!
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Elizangela, seu apoio – não só como Coordenadora Pedagógica competente e engajada que eu sei que você é – tem sido fundamental! Obrigado por esse comentário, que só me motiva a levar o trabalho adiante! Um abraço!
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Já tive por virtude de cursos e depois para minha própria análise, a filmagem de minhas aulas. Nos vídeos percebemos alguns trejeitos que nem imaginamos que temos, constatei que não vi aluno levantando a mão para participar – só no vídeo, atalhos ou ganchos que poderia ter tido, informações mal esclarecidas, enfim… são muitos benefícios para melhorar. Sobretudo perceber que sua aula trouxe conhecimento ou que registramos a maneira que levamos o aluno a refletir e chegar a um conceito… isso é surpreendente!!!!
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Professor, nunca tive essa experiência de ser filmada, mas com os estágios obrigatórios da Universidade tive foi uma parecida, quando os professores orientadores e os supervisores nos observam nas práticas, realmente a impressão que dá é que com apenas um erro seremos julgados, e por isso nada pode dar errado, tudo deve estar perfeitamente certo como se tivéssemos que seguir um script.
Penso que ao iniciar a Clínica alguns professores podem ter a mesma impressão, por medo e insegurança. Por isso que é importante criar um laço de cooperativismo com os demais colegas de trabalho, pois assim, ao ser observado o docente saberá que as correções vindas será apenas para o crescimento e por isso não há necessidade em temer perante as críticas que poderão receber.
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Concordo contigo, Camila! Na primeira vez que outro professor assistiu a uma aula que ministrei, quase achei que iria morrer. No entanto, com o passar do tempo e com a autoconfiança no que está fazendo, acredito que essa insegurança tende a diminuir.
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De fato, Camila. Muito provável que no início haja um estranhamento, mas aos poucos os docentes vão se adaptando e compreendendo a relevância das filmagens neste processo.
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Professor, gostaria de relatar uma pequena experiência que tive ao ser filmado durante a realização dos estágios. Na ocasião, a professora orientadora não poderia comparecer e, como, talvez, ela não poderia assistir nenhuma aula, ela recomendou a filmagem. Foi muito estranho… era como se tivesse um script que eu tivesse que seguir. Foi a pior aula que já dei na minha vida. Me senti engessado e completamente inseguro, é como se tivesse internalizado que quem assistisse àquela aula iria me punir… não consigo explicar com clareza. Na outra semana, minha orientadora conseguiu ir a aula e então a gravação foi desconsiderada. Penso, assim que o nervosismo pode atrapalhar muito nesse processo. Como proceder nesses casos? A filmagem deve ser mais longa e frequente?
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Interessante saber da sua experiência, Dener. Nunca tive a experiência de ter minhas aulas filmadas, logo, não sei precisamente de que forma eu reagiria, mas imagino que o nervosismo nas primeiras gravações possa acarretar sim em dificuldades para proceder com a aula. Resta encontrar formar de contornar isso, a fim de possibilitar os métodos da Clínica.
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Professor, acredito que essa proposta é muito boa e é impulsionando-a que aos poucos iremos quebrar com esses estereótipos negativos relacionados a filmagem do professor. A filmagem no sentido que é apresentada aqui é essencial para causar a reflexão do professor sobre sua própria prática.
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Realmente, os professores precisam ser auxiliados para conseguir quebrar com a ideia tradicional de que a filmagem é para vigia-los. Infelizmente, nos dias atuais essa é uma ideia que tem ganhado mais força por conta das posições adotadas por muitos políticos, como por exemplo, aqueles que defendem o Escola sem Partido.
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Concordo com meus colegas dos comentários acima. A filmagem realizada partindo dos pressupostos da Clínica da Atividade e com o seu propósito esclarecido é um instrumento valioso para que o professor reflita e recrie sua prática. Eu mesma já fiz a experiência de gravar minhas aulas para minha própria observação e posso dizer que sabendo que estava sendo gravada fez com que no momento tivesse mais consciência da minha prática.
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E tenho certeza que a partir disso você conseguiu notar pequenos detalhes que muitas vezes te prejudicava em sua prática e com isso pode refletir e pensar em estratégias para mudança.
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Para mim, a questão da negatividade ao redor do processo de filmagem do professor é delicada. Provavelmente há um estigma ao redor da noção de observação do docente, visto que na maioria das vezes em que processos semelhantes foram executados, o que se tinha em mente era vigiar e limitar as ações do professor em sala. Porém, com a devida apresentação dos métodos e das propostas da Clínica, creio que essa noção pode ser alterada, possibilitando que o professor perceba que a filmagem é um recurso de desenvolvimento próprio, e não de opressão.
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Isso, Emanuel. Conforme debatemos em nossos comentários anteriores, esse primeiro contato pode assustar o sujeito. Mas com a prática e diálogo correto é possível mostrar ao docente os benefícios profissionais e pessoais que a clínica proporciona.
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A filmagem é um meio de coleta especial e de suma necessidade. Somente através das gravações será possível ver a prática e capitar detalhes que podem fazer total diferença no resultante da Clínica. Compreendo que a resistência às filmagens será natural, por receio de processos ou denúncias mal intencionadas. Por essa razão, o diálogo abrangendo os objetivos e resultantes da Clínica servirão como forte justificativa para esse método de filmagens.
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Toda mudança gera algum receio, mas acredito que o dialogo é parte fundamental desse processo.
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A filmagem é um auxílio da atividade do professor, com diálogo é possível mostrar ao docente os benefícios das filmagens.
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A parte da filmagem é muito importante, porque ela auxilia o professor a enxergar coisas na sua prática, que muitas vezes ela ainda não tinha percebido, certos gestos, mudança no tom de voz, momentos em que os alunos fazem mais perguntas, e assim repensar em sua prática.
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