Qual foi a demanda dos professores e com qual realidade educacional não se deveria trapacear?
por Anselmo Lima
Da creche à pós-graduação, o problema é sempre o mesmo e a demanda é sempre a mesma. Os professores são tratados como se não fossem especialistas naquilo que fazem. E os gestores, acreditando que eles de fato não o são, entendem ser necessário contratar “especialistas” externos para lhes dar palestras, cursos, workshops, treinamentos, etc. Mas os docentes, com toda razão, não se reconhecem naquilo que os “especialistas” externos lhes dizem e, uma vez encerradas as famigeradas “semanas pedagógicas” e outros momentos desse gênero, têm de retornar a uma realidade de trabalho cuja precariedade os impede amplamente de desempenhar suas atividades profissionais a contento.
Quando assumi o Departamento de Educação entre os anos de 2010 e 2012, a situação institucional não era muito diferente dessa. A demanda formal dos professores, entretanto, era muito clara: desejavam apoio concreto e prático na resolução efetiva de problemas didático-pedagógicos da e na sala de aula. Já não podiam mais ouvir o mesmo blá-blá-blá de “especialistas” externos que sempre ouviam e que passava sempre muito, mas muito longe de suas reais preocupações de ensino-aprendizagem.
Nessa época, assim como em todas as épocas e na atualidade, a situação e a demanda dos professores constituía sem dúvida uma realidade educacional com a qual não se podia e não se deveria trapacear. E esse foi meu compromisso, mesmo que o “prazo” de dois anos para “resolver” o problema à frente do Departamento fosse mais que insuficiente… Atender à demanda de aproximadamente 300 professores, com seus quase 4.000 alunos, era o desafio que eu tinha pela frente. Ciente de que não existem soluções fáceis e rápidas para problemas difíceis, a proposta de implementação da Clínica da Atividade Docente no Câmpus foi a estratégia que usei para enfrentá-lo. Em meu próximo post, compartilharei o modo como constituí e organizei o coletivo de professores para essa finalidade e qual foi a estrutura educacional envolvida.
Professor Anselmo, compartilho da mesma ideia. Não adianta trazer profissionais externos para resolver questões internas. É um desperdício que, no final das contas, não contribui para a melhoria da aprendizagem.
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Prezada Loriene, obrigado pelo precioso comentário! Dificilmente encontraríamos um colega professor que não compartilharia de nossa ideia, não é mesmo? O que impressiona é que quase nada (ou nada mesmo!) seja feito nas instituições para sairmos desse impasse. Os próprios professores devem ser reconhecidos (e se reconhecer!) como únicos especialistas legítimos naquilo que fazem. Esse é o caminho para, sem desperdícios, enfrentar com eles as dificuldades concretas das salas de aula e apoiá-los em sua superação. Um abraço!
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Olá, professor! É exatamente essa a realidade das escolas observada por nós enquanto estagiários/pibidianos. Acredito que a longa jornada de trabalho e as poucas horas que os professores têm disponíveis para discutirem acerca das questões de ensino-aprendizagem dificultam a troca de ideias sobre planos de melhoria do sistema de ensino. Quem sabe se eles tivessem mais oportunidade de pensarem juntos sobre a necessidade do coletivo, eles se sentiriam mais seguros na hora de criar resoluções práticas para o contexto estudantil.
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Com o seu comentário fica nítido como é importante para os cursos de licenciatura as prática de estágio e a participação no PIBID. Essas práticas aliadas ao estudo que estamos tendo na disciplina de Clínica da Atividade Docente enriquecem muito nossa formação pois nos propiciam vivenciar com detalhe as realidades do ensino e aliar as teorias com a prática.
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Quando trabalhei em uma escola de rede pública percebia que faltava o diálogo entre os próprios professores, as decisões que eram tomadas nunca chegava aos docentes, faltava a comunicação e interação, dificultando as questões de melhorias para a escola. Acredito que não se deve investir em pessoas externas para dar palestra e apontar o que se deve melhorar, penso que o investimento deve estar na união e integração de todos os professores e gestores.
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Exatamente, Camila! De nada adianta levar um “figurão” só para fazer com que os professores saiam mais desanimados.
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De fato, professor, essa nossa desvalorização é muito recorrente. Ter de ouvir de especialistas externos que nunca estiveram em uma sala de aula apenas críticas não construtivas é muito desanimador. Tenho certeza que sua atitude de ousadia com a implementação da clínica obteve resultados promissores.
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Sim, Barbara. Creio que esse processo de forçar o professor, em muitos casos já adoecido e desengajado, a receber orientações incoerentes em relação à prática real da docência é um fator que contribui ainda mais para que mais professores percam a esperança em relação à melhorias e progresso no contexto educacional atual.
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Que bom que nós enquanto alunos da disciplina de Clínica da Atividade Docente tivemos a oportunidade de conhecer essa prática de intervenção nos problemas enfrentados pelos professores que foge daquelas tradicionalmente conhecidas, que como ficou claro em nossos estudos, não são eficazes por não considerar o professor como o especialista da sua atividade.
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Me sinto feliz por ter participado das aulas, pois realmente tivemos oportunidade de conhecer uma nova maneira de trabalhar em sala de aula. Me sinto feliz também por entender que nós somos os especialistas de nossas aulas, nós é quem somos os protagonistas e não pessoas externas.
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O sistema nos faz crer que pertencemos sempre a um lugar secundário; Onde nosso profissionalismo se resume em “dom” , desprezando todo o estudo e dedicação que tivemos por longos anos até sermos professores. Quando nos deparamos com um projeto que busca justamente resgatar a essência do profissional, pegando em sua mão e mostrando que este não está só, tende a nos fazer acreditar outra vez. Não vejo como algo utópico, mas sim como um primeiro passo para reverter esse atual quadro.
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Esse descontentamento é indignação por parte dos professores em relação ao suporte precário oferecido pelos gestores é notável. A prática de trazer “figurões” para ensinar os professores, especialistas de sua própria atividade, está tão consolidada no contexto educacional atual que os professores se enxergam impotentes e desamparados. Sendo assim, esse clamor por um aporte que implique diretamente nos obstáculos enfrentados na prática real da atividade docente é justificado e compreensível.
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Não canso de enfatizar o quanto me apaixonei pela clínica. Por ser da área de medicina ocupacional, presencio diariamente os agravantes da profissão de docência que realmente transcendem o raso tão analisado por ” figurões”. Vejo a Clínica como uma grande parceira da saúde do professor e realmente torço que ela possa expandir grandemente.
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