Autoconfrontação Simples com o professor “B”: análises e primeiras conclusões
por Anselmo Lima
Ao se observar em atividade, semelhantemente a seu colega, o Professor “B”, fazendo alusão ao “ver” com “se tu for ver”, ressalta o caráter “abstrato” e “falho” do tipo de gesto profissional que está realizando: “tá abstrato porque eu seleciono uma parte… e eu não fico mostrando bem certinho, né?”. Então, considerando outra possibilidade de realização do que acaba de se ver realizando no vídeo, diz: “eu podia ter selecionado cada… cada pequena parte”. E conclui: “esse é um aspecto falho que eu poderia ter… feito de uma forma melhor”.
Continuando com suas reflexões, o professor pensa a respeito de possíveis consequências de seu gesto para os alunos: “às vezes o(s) aluno(s)… ele(s) fica(m) perdido(s)”. É nesse momento, claramente tomando consciência de que é necessário evitar esse tipo de prejuízo causado aos discentes, que o professor começa a ponderar o que poderia ter feito e, com isso, também o que poderia fazer de modo diferente. Assim, conclui que a alternativa é e teria sido levantar-se: “eu poderia ter levantado… né? e ido aqui [à tela] e falar ó neste local aqui está a plaquinha de rede… neste local [está este outro elemento, etc.]”.
O professor explica que o motivo de não se levantar logo de início é “lógico”, pois é desgastante a prática do “levanta, senta, levanta, senta”. Assim, acaba sendo levado a permanecer sentado enquanto digita e dá sua aula. Se fosse se levantar e se sentar a cada instante, do ponto de vista da preservação de sua saúde física, seu gesto profissional acabaria por se tornar insustentável. Entretanto, incluindo seus interlocutores em seu coletivo de trabalho por meio do pronome “a gente”, o professor afirma que essa “é uma coisa que a gente tinha que pensar [juntos]” e sugere que “talvez uma forma de melhorar isso” seria “ter sempre [em mãos] aquele apontador” ou, em minhas palavras, um “leizerzinho”. Nesse caso, com o uso desse recurso técnico, o professor poderia ficar “sentado”, conseguiria “apontar [na tela]” e não precisaria “ficar se deslocando tanto”.
Assim, contrariamente a seu colega, o Professor “B” parece fazer todos os esforços possíveis para permanecer sentado, mesmo que isso possa prejudicar o ensino-aprendizagem de seus alunos. Desse modo, ainda que seja útil para a preservação da saúde física do professor, o gesto profissional de digitar sentado parece insustentável tanto para os discentes, que podem ter seu processo de ensino-aprendizagem prejudicado, quanto para o docente, que acaba tendo de lidar com dispersões e certa indisciplina, o que – no fim das contas, mesmo que a longo prazo – acaba por lhe comprometer a saúde mental.
Identificado o problema, mostrarei em meus próximos posts como se dá sua abordagem em um momento-chave das sessões de Autoconfrontação Cruzada.
Estamos sempre tentando conciliar nossa atividade com nossa própria saúde e a aprendizagem dos alunos. Percebo isso que esse professor fala também em mim, às vezes. Isso é extremamente complicado, porque às vezes não quero prejudicar os alunos, mas acabo priorizando minha saúde e isso acaba me deixando para baixo. São os problemas da docência.
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Compreendo, Dener. Essa realidade educacional não deveria existir deste modo. Visto que tanto a saúde do professor quanto a aprendizagem do aluno são eixos importantes e complementares. Fazer o professor sucumbir a algo prejudicial a sua saúde é a mesma coisa que ir contra 38 normativos estabelecidos em lei que defendem, desde 1978n as obrigações e deveres do empregado/empregador para com a saúde ocupacional do sujeito.
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Esse fato me lembra um campo minado, o qual temos que ter muita cautela com os passos que vamos dando, pois a qualquer momento podemos explodir tudo ao nosso redor. É muito complicado ter que tomar esse tipo de decisão relatado nesse post, e até certo ponto é meio extremista, ou a saúde do docente ou o aprendizado do discente. Penso que a melhor coisa seja conciliar os dois, cuidando tanto de um quanto de outro.
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Bem interessante essa reflexão, Camila. Acredito que a clínica de fato objetiva essa conciliação, pois seria o ideal na nossa profissão.
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Eu concordo com o que foi apontado pela minha colega Camila, logo acima, acredito que deve haver uma conciliação entre os dois pontos. Observamos no caso deste professor, sua realidade e condições da estrutura em que leciona o fizeram optar pela sua atitude. No entanto, fica a reflexão de que muitos professores passam muito tempo dificultando sua saúde diante de situações precárias e falta de acessibilidade, fica o questionamento: será que realmente vale a pena? Novamente coloco a questão da desmotivação/desengajamento dos professores. Talvez esse já tenha priorizado por muito tempo facilitar a aprendizagem dos seus alunos mesmo que o prejudicasse sua saúde…
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Concordo, Barbara. No caso desse professor vemos que ele optou por priorizar a sua saúde mas sabemos que muitos docentes não fazem isso e não conseguem conciliar sua saúde com o melhor aproveitamento dos alunos. Acredito que a maioria dos professores acaba dando prioridade ao desenvolvimento dos alunos exatamente por estar constantemente sendo pressionado pela sociedade em geral para alcançar determinados resultados.
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Achei interessante, Mayara, a sua colocação quando você diz: “Acredito que a maioria dos professores acaba dando prioridade ao desenvolvimento dos alunos exatamente por estar constantemente sendo pressionado pela sociedade em geral para alcançar determinados resultados”. Realmente, as pressões vem de todos os lados, por parte da equipe pedagógica, dos pais, em cumprir com as tarefas do livro didático, são situações que fazem com que o docente adoeça.
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A que ponto chegamos enquanto profissionais, onde precisamos medir entre a nossa saúde laboral ou a aprendizagem dos nossos alunos. Até que ponto nos compete abrir mão da nossa saúde física e mental para suprir uma falha processual de sistema?!
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