Saúde física e mental do professor: cuidado com gestos docentes insustentáveis!
por Anselmo Lima
É possível resumir da seguinte forma o problema discutido na sequência de posts anteriores (clique aqui para acessá-los): 1) sentado, o professor que usa computador em suas aulas digita com facilidade e conforto e, assim, preserva sua saúde física, mas perde um contato mais próximo com os alunos, que – até certo ponto entregues a si mesmos – se perdem na indisciplina; 2) em pé ou inclinado, o professor digita com dificuldade e desconforto e, assim, prejudica sua saúde física, mas ganha um contato mais próximo com os alunos, que – acompanhados mais de perto pelo professor – tendem a se manter na disciplina.
É possível perceber com isso a que ponto os docentes se esforçam para incorporar a si a própria mesa e o computador do professor, buscando fazer com que seus próprios corpos, em uma unidade com esses artefatos, se constituam como instrumentos semióticos híbridos de ação educativa sobre os alunos. O Professor “A”, buscando preservar sua saúde física, permanece sentado para digitar, perdendo relativamente o contato com seus alunos, que – por sua vez – se perdem em relativa indisciplina, o que pode lhe trazer frustrações que – a curto, médio ou longo prazo – poderão prejudicar até mesmo sua saúde mental. Já o Professor “B”, buscando acima de tudo resguardar possíveis resultados educacionais, ao inclinar-se para digitar, acaba por – de certa forma – comprometer sua saúde física, ainda que mantenha total contato com seus alunos e, com isso, resguarde sua saúde mental ao evitar problemas com indisciplina. Com base nessas considerações, podemos afirmar que se trata de dois gestos profissionais docentes insustentáveis. Verificamos, com isso, a que ponto a sustentabilidade de gestos profissionais, bem como a manutenção da saúde individual e coletiva no trabalho, depende justamente da possibilidade de o sujeito trabalhador constantemente se repetir com recriação.
Meu próximo passo será mostrar os videodocumentários que resultaram dessa problematização de gestos profissionais docentes com os Professores “A” e “B”. Aguarde!
Como comentei no post anterior, esses gestos são “tapa-buracos” e muitas vezes sequer são percebidos pelos professores. Nesse sentido, a Clínica é muito válida como estratégia que busca desvendar os problemas que muitas vezes não são aparentes para nós, professores. Ademais, ela permite que descubramos juntos os problemas e a eles procuremos dar uma solução coletiva.
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Que interessante, se não fosse a Clínica ambos os professores não teriam percebido o problema no qual estavam envolvidos. Penso que o primeiro grande passo foi dado, o que vem a seguir é a solução, talvez a união desses professores possam levar a uma conquista de novas mesas para as salas, que priorizem a saúde do docente sem que prejudique a aprendizagem dos alunos.
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É ótimo que os professore tenham conseguido através da Clínica observar e refletir sobre suas aulas e detectar esse problema que infelizmente não depende apenas de suas vontades para resolver, caso contrário tenho certeza que tais docentes fariam o possível para que fosse solucionado. O que seria esperado mesmo é que esse problema detectado por meio da Clínica da Atividade Docente fosse levado a quem o compete para solucioná-lo.
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Concordo com sua colocação, Mayara. Também acho que o ideal seria levar o problema a quem compete resolvê-lo, como já mencionado em alguns posts anteriores, há situações e empecilhos que não cabem somente ao professor selecionar.
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De fato, é muito interessante ver como a Clínica auxiliou na autorreflexão dos professores, fazendo-os repensarem sobre suas repetições e recriações.
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É um trabalho que nunca cessa, mas o professor sempre deve estar engajado e motivado para exercer essa atividade.
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Ótimo post, professor! Os gestos docentes insustentáveis cercam a sala de aula. Um dos mais recorrentes (pelo menos na minha perspectiva de trabalho) é a gritaria. Infelizmente esse é um recurso que vejo constantemente no meio escolar. Nesse ponto, creio que o professor já está desengajado e, com isso, sua saúde é afetada tanto no âmbito mental quanto físico.
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Realmente, Angelo, o fato do professor aumentar o tom de voz em sala demonstra o desengajamento que este possui, além de prejudicar as cordas vocais, mostra um esforço enorme em ter que controlar a turma, sem outras alternativas recorre a “gritaria”.
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Realmente, Angelo. Vejo isso como uma alternativa comportamental alarmante ao profissional. Tanto em aspectos comportamentais quanto ocupacionais.
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Acredito que os gestos docentes são os mais difíceis de se fazerem perceptíveis aos olhos do próprio professor. São vícios, sejam eles comportamentais ou posturais. Detalhes que, muitas vezes, somente serão capitados através de uma auto-observação ou do auxílio de um segundo ao processo.
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